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domingo, 29 de dezembro de 2013

PRAZO DE VALIDADE

(Foto Google-Imagens)
Assisti à luta de Anderson Silva, mais por ser brasileiro e querer engrossar a torcida, do que pela representação do esporte. Aliás, acho o UFC extremamente violento e afirmo ter audiência apenas pelo número de brasileiros nas lutas do programa sanguinário. Assim, assisti ao vivo o martírio do Silva, posteriormente repetido à exaustão. Foi demais quebrar a fíbula e a tíbia em golpe provocado por ele e defendido pelo americano. O fato, pela gravidade, pode ocasionar aposentadoria.
O acontecimento trágico sobressaltou algo esquecido no dia a dia: o prazo de validade. Seja humano, animal ou vegetal, enfim, todo ser vivo passa pelas fases de nascimento, crescimento e envelhecimento. A morte, por ser o fim da vida, nem cito.
Certa vez assisti à entrevista com Emerson Fittipaldi logo após a queda de ultraleve em 1997, por ocasião de passeio. Saiu da fazenda no interior de São Paulo e desapareceu por onze horas. Emerson declarou que, após o acidente, colocou colete protetor para reforçar uma vértebra. Na ocasião, assumiu que o risco de sequela grave era grande devido à idade, inimiga que roubava reflexos e retardava a recuperação. Isso acelerou a aposentadoria do campeão, cogitada desde o acidente de Michigan em 1996, onde também rompeu vértebras da coluna.
Nelson Piquet, nosso outro piloto campeão, após abandonar a Fórmula 1 fechou contrato com a Indy. Pretendia estender a capacidade de pilotar em alta velocidade nas pistas por muitos anos. Piquet tinha 39 anos quando bateu forte no autódromo de Indianápolis. Escapou com vida por milagre e abandonou de vez as pistas oficiais. Decidiu tocar a vitoriosa carreira de empresário. Entendeu que reflexos, resistência física e outros quesitos imprescindíveis são potencializados pela juventude e perdidos à medida que o tempo se esvai.
Talvez tenha sido esse entendimento que faltou a Anderson Silva. Um médico ortopedista entrevistado pela Globo News, cogitou que a perna atingida do Spider poderia estar com ossos comprometidos, não somente pela idade do nosso campeão, como também pelo número de vezes que a usou para derrubar adversários. Tanto isso é verdade, que certa vez o campeão quebrou a perna de um antagonista com violenta pernada, o que provocou nocaute prematuro.
A hora de parar sempre chega. Quanto maior o esforço do organismo para praticar o esporte, mais o atleta é exigido e precisa reconhecer o momento de parar. Afinal, organismos sofrem fadiga e até máquinas se desgastam.
Ilusão achar que isso ocorre somente nos esportes. Cuidados especiais também devem acontecer na procriação. Jovens casais que adiam a reprodução podem ter surpresas. Inúmeros problemas na idade avançada dos pais influenciam na formação genética dos descendentes.

domingo, 22 de dezembro de 2013

QUARENTA ANOS DEPOIS

(Linhares - Arquivo pessoal)
.“... Céu é o lugar poético onde estão guardadas as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. Falar "céu" é dizer "esperança de reencontro.” (Rubem Alves).


Final de ano é tempo de reencontros. Turmas de faculdade, de trabalho, de primeiro e segundo graus, de vizinhos, enfim, pessoas que conviveram de alguma forma têm a curiosidade de rever antigos companheiros e trocar informações sobre trajetórias de vida.
No dia vinte de dezembro ocorreu o reencontro com amigos do DENTEL - Departamento Nacional de Telecomunicações. Os anos de convivência foram entre 1974 e 1981, ainda durante o regime militar. Éramos funcionários de vários órgãos do Departamento, e fomos unidos pelo destino em torno de uma motivação desafiadora: implantar sistemas informatizados nos cadastros manuais. O trabalho hercúleo iniciou após um curso de formação na COBRA - Computadores Brasileiros S.A., no Rio de Janeiro.
Usando tecnologia atualizada, criei um grupo Whatzapp e iniciei o garimpo dos colegas. Em quatro dias contava com oito pessoas no grupo e o telefone de outros nove que não usavam o aplicativo. A partir daí, ficou fácil. O pessoal se mobilizou e o encontro aconteceu, totalizando doze participantes. Compareceram Moacir e Mali, Gelson e Divina, Hélio e Bela, eu e Malu, Marisa, Irani, Dioney e Helane. A tônica da conversa foram os anos de convivência, as atividades, as agruras e a superação de obstáculos.
Passagem por doenças, falecimentos de entes queridos e dores foram compartilhadas em irmandade, como se nunca houvéssemos nos separado. A vida encerrou-se prematuramente para três companheiros que poderiam estar presentes e que foram lembrados com respeito e amizade: o Nelson, o Deolindo e o Cláudio.
Na memória, momentos pitorescos, como as festas de São João em minha chácara, onde todos colaboravam. Em uma delas, o Deolindo responsabilizou-se por levar o aparelho de som. À meia-noite, cansados de esperar por ele, contratamos um sanfoneiro que além de bêbado, nada sabia de repertório junino. Tocava apenas uma melodia na sanfona de fole furado que mais soprava vento que som, mas possibilitou a animada quadrilha. Deolindo chegou no dia seguinte com o aparelho de som e passou o resto da tarde, tentando ligá-lo à bateria do carro. Após várias tentativas frustradas e duas baterias em curto, chamamos novamente o sanfoneiro e seguimos com a festa até o dia seguinte. Eram festas que geralmente varavam noites e os participantes dormiam em redes pela sala e varanda.
Para quem compareceu ao reencontro no restaurante Xique-Xique da Asa Norte de Brasília, a sensação é de que a vida, por mais difícil que seja, deve ser levada com alegria, pois se houve momentos penosos, também aconteceram os de contentamento. Após quarenta anos, este foi o primeiro reencontro do grupo. Com o sucesso, outros participantes virão e, com certeza, novas conversas a compartilhar.


sábado, 7 de dezembro de 2013

A MENINA QUE SE FEZ MULHER

(Google - Imagens)
Rosinha é menina esperta e aos treze anos, entendendo as dificuldades do pai para financiar as despesas, decide trabalhar. Distribui currículos em lojas, shoppings e supermercados, e em pouco tempo coleciona ofertas de emprego. É contratada como vendedora em barraca de peças íntimas, na Feira dos Importados. Como exibe silhueta torneada, esbanjando inocência e sensualidade, se permite o uso de vestes provocantes e maquiagem arrebatadora, como as atrizes das novelas. Da menina que lidava com bonecas e brincadeiras infantis, desabrocha a mulher esbelta exposta à cobiça.
André é mais um a interessar pela menina. Homem feito, 22 anos, casado e proprietário da barraca em frente, reconhece a magia da moça. Rosinha percebe o interesse do rapaz e, decidida a resistir, apenas alimenta sua inquietude sem transparecer interesse. Esperta, identifica nele a maturidade e independência que aos outros faltam.
— Aposto que é virgem — comenta André com o amigo, que comparece diariamente e faz do endereço mirante de observação.
De lindo sorriso, resiste bravamente aos mais ousados convites e continua a mostrar calcinhas, sutiãs e roupas sensuais, alimentando a volúpia dos clientes masculinos. Um dia, Rosinha recebe buquê de rosas com cartão escrito “Te quero. Não desistirei de você. André”. As pernas fraquejam e um calor sobe pelo ventre juvenil. A partir daí passa a reforçar o perfume e brinda o rapaz com belo sorriso.
A oportunidade para André surge no mesmo dia. Uma greve de ônibus. O rapaz se oferece para levá-la em casa e, a partir daí, passam a namorar. Sutilmente, o rapaz transparece que quer algo mais que namoro e Rosinha, sem forças para resistir aos beijos recheados de intenções, procura Sônia, a melhor amiga.
André, insistente, também conhece Sônia, a quem pede ajuda para conseguir o troféu. Ela deverá aconselhar a namorada a entregar a virgindade e, em troca, André a emprega na loja. Rosinha, inocentemente, se aconselha com a amiga, sem reconhecer a trama armada.
— Sabe Sônia, acho que perderei André  ¬ e confia o pedido do rapaz.
— Pois se entregue mesmo, deixe de ser boba, se não o fizer, ele te larga. Homem é assim mesmo — aconselha Sônia.
Naquela noite, Rosinha pouco dorme e quando o faz, sonha com as mãos de André em seu corpo, os beijos quentes e acorda suada. Amanhece decidida a entregar-se a André. À noite, se dirigem a uma esquina escura, perto da casa da moça e, dentro do carro, Rosinha deixa a inocência e entra na maturidade. Passam a sair diariamente e, como esquecem as precauções, a moça engravida.
André, homem maduro, já esperava isso e se dispôs a ampará-la. Rosinha aceita a ajuda, mas quando o jovem fala em casamento, declina e explica que a vida de casada não está nos planos. Com 27 anos, a moça considera a gravidez fora de hora, determinante para sepultamento do projeto de vida. Culpa-se e sofre em silêncio. Os olhos baixos refletem sua melancolia. André formou outra família e a visita três vezes por semana. Quando juntos, a leva para o quarto e a submete da mesma forma de quando a conheceu, na esperança de recuperar a moça brejeira e alegre.
— Gostaria de terminar a relação. Tenho 27 anos e estou presa a este homem — baixa a cabeça, parece envergonhada. — Só faço sexo porque ele quer, não sinto nada. Depois, fico feliz. Feliz porque terei três dias de folga antes que ele me procure novamente — pensativa, o olhar caído, a fala baixa. — Um dia refaço minha vida. Na verdade, nem vivi ainda. Saí da opressão de papai e caí na de André.