(Google Imagens) |
Élida visita a
mãe semanalmente às segundas-feiras, dias de plantão do marido e acaba ficando
até o cair da tarde. Os filhos adolescentes sabem se virar, permitindo que espere
o marido que a pega ao final do trabalho. Certo dia, ao descer do ônibus, percebeu
que um carro a seguia de longe e, a partir daí observou que toda semana estava
lá novamente. Sentia-se vigiada e, como era de temperamento decidido, resolveu
encarar o problema de frente. Aproximou-se e teve um choque ao perceber que era
Francisco, ex-namorado da adolescência. Percebendo-se reconhecido, o rapaz saltou
do carro sorrindo.
– Você continua bonita – Francisco apresentava
os cabelos grisalhos e as rugas em volta dos olhos adornavam a aparência madura
e viril. Élida tremeu ao reconhecer a voz de tantas juras de amor ditas nos
cinemas e bailes da juventude.
Namoraram
quando ambos tinham dezoito anos e sempre às escondidas, pois seu pai cultivava
profunda antipatia por Francisco. O
namoro foi de calorosos beijos que plantaram a semente do desejo e manteve acesa
a chama por tantos anos. Os corpos lembravam-se um do outro e Élida imaginou-se
novamente adolescente e curiosa quanto aquele sentimento, há muito adormecido. E dominou a vontade de se jogar nos braços do homem.
– Os cabelos brancos lhe fazem bem.
– aproximou-se o bastante para perceber o perfume e lembrar o quanto este odor a
atraía. O cuidado de usar a mesma fragrância fora meticulosamente estudada por
Francisco.
– O rabo de cavalo que está usando me
transporta para nossa adolescência – Francisco falou timidamente, referindo-se
ao modo displicente que Élida prendera os cabelos com uma liga. A mesma timidez
velha conhecida da moça e que a frustrou nos planos de tornar-se mulher com
este grande amor de sua vida – Fazem três meses que rondo o endereço de sua mãe
e resolvi esperar o momento certo para falar contigo. Sei até onde mora.
– Mamãe nunca quis mudar daqui.
Agora que papai morreu, quem sabe – Comenta a moça querendo apenas disfarçar a
pretensão de aproveitar ao máximo a oportunidade de terem uma relação que
recupere o perdido na adolescência.
– Casei e fui morar no Espírito
Santo – Francisco falou se desculpando – Olha – abriu a carteira e retirou a
foto dela jovem. No verso, uma dedicatória apaixonada. A lágrima rolou pelo rosto
da moça, emocionada ao descobrir o amor que o homem lhe dedicava há tantos anos.
– entendeu que o casamento foi o motivo que o fez desaparecer de sua vida.
– E você a guardou por todo deste tempo? – A sinceridade do rapaz
a sensibilizou e chegou-se ainda mais perto.
– Tenho todos os bilhetes que me enviou.
Trocaram endereços de e-mails e iniciaram intensa correspondência.
Falavam por telefone frequentemente, por vezes até três ligações diárias. Nos
dias que visitava a mãe, tomavam café numa cafeteria perto da casa. E Élida
precisou de um mês para convencer o rapaz, até que certo dia, combinaram um encontro
mais íntimo. Falou à mãe que chegaria depois do almoço e rumou para um motel
com Francisco, onde realizaram o sonho iniciado na adolescência.
Élida sentia-se feliz em encontrar o homem da juventude. Observou que
sentimentos e corpo ainda respondiam aos anseios da paixão. Durante todos estes
anos, sempre lembrava Francisco e lamentava que nada acontecera entre eles,
numa época de tanta repressão com as mulheres. Pretendia agora permanecer assim
mesmo, sem compromissos para encontrarem-se e transformar a vida que definia
sem graça em algo colorido.
Ao contrário da moça, logo após o primeiro encontro, Francisco
caiu em depressão profunda e, mesmo com toda participação amorosa, sentia-se
muito mal. Nunca fora infiel a mulher e, mesmo que a paixão entre eles fosse
fria, uma amante o deixava abalado e receoso. Temia por sentir tanto amor,
coisa que há anos amortecera confinado a ritos religiosos. Como evangélico, preparava-se
para ser pastor e a continuidade da relação poderia lhe custar muito. Ao notar
que Élida queria apenas curtir momentos, Francisco desiludiu-se e esfriou a
relação, afastando-se sem explicações.
Élida notara a frieza do. Haviam saído apenas uma vez e percebeu a
insegurança do rapaz. Na hora da relação, teve que acalmá-lo com palavras de
conforto e amizade. Após duas semanas se esquivando dela, combinaram um café
num shopping e soube da voz de Francisco o quanto a relação mudara a vida.
Encontrar um amor do passado pode ser algo muito bom, mas se as
intenções forem a de resgatar algo, pode se tornar num grande problema e Élida,
que pretendia apenas ter alguém para momentos de amor, entendeu que o rapaz
pensava bem diferente. Francisco alimentava pela moça a grande paixão que o
reencontro aflorou.
– Após casar, Élida, nunca beijei outra mulher, o que dizer ter
amante. Não dou conta disso. Até gostaria de te encontrar, mas não posso. Muito
me arrependi de te seguir e entrar em contato. – Francisco estava visivelmente transtornado.
Mas a mulher ainda tinha esperança
de continuar a viver esta paixão, sentia-se adolescente e renovar estes
sentimentos lhe fazia bem. Naquela noite, a última que viu Francisco, Élida
notou que um carro passou várias vezes na madrugada em frente sua casa.
Quando o dia amanheceu, ligou para
Francisco e ouviu a mensagem da operadora:
ESTE NÚMERO NÃO EXISTE, POR FAVOR TENTE NOVAMENTE.
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