LEIA TAMBÉM:"ARQUIVO" e "PÁGINAS"

Dificuldades para comentar? Envie para o email : marcotlin@gmail.com
****************************************************

domingo, 22 de abril de 2012

O SILÊNCIO É UMA PRECE - João de Deus

(Google Imagens) - Salão Principal da casa Dom Inácio

Abadiânia é município do estado de Goiás, sem atrativos turísticos ou belezas naturais, mas conhecido mundialmente. Afinal, abriga a Casa Dom Inácio, complexo Centro Espiritual cujo mentor, João de Deus, faz cirurgias e tratamentos espirituais dedicados a cura de doentes dos quatro cantos do mundo. A cidade com cerca de 16 mil habitantes serve de corredor aos municípios de Corumbá e Pirenópolis e está localizada as margens da BR 040, a meio caminho entre Brasília e Goiânia, numa das melhores estradas brasileiras. Pista preferida de motociclistas amadores e profissionais com potentes máquinas sobre duas rodas. Nem tudo são flores, turistas acostumados com o conforto e organização das cidades de origem, caminham nas ruas entre automóveis. Faltam calçadas para pedestres e os carros transitam por ruas apertadas e mal conservadas.
O município vive a reboque da Casa Dom Inácio, provocando até comentários do prefeito tipo “não sei o que seria da cidade sem João de Deus”.
            Mas não é sobre o município que pretendo me estender, muito menos sobre motoqueiros velozes da estrada.
Precisei de cerca de hora e meia para cobrir os 120 quilômetros da distância de casa até a rua de acesso onde o médiun trabalha. Cheguei as dez horas da manhã. Ao sair da estrada principal e entrar no município, deparei-me com forte comércio local. Vendem camisetas, pedras semi-preciosas, imagens de santos em gesso e outras lembranças destinadas a turistas de todo mundo, ávidos por recordações de um momento tão único. A cor predominante das indumentárias é o branco, símbolo da pureza do espírito. Pequenas pousadas e lanchonetes esperam os visitantes com comidas típicas de Goiás. Quando falo turistas do mundo todo, não é exagero. Encontrei americanos, franceses, alemães, enfim, europeus em geral numa mistura de línguas que emprestam a pequena Abadiânia um ar imponente.
Deixei o carro em um estacionamento em frente ao Centro e me dirigi a pé aos pavilhões que compõem o complexo. Administração, grande salão com cobertura para entrada aos trabalhos, biblioteca, farmácia, banheiros sempre muito limpos e espaços a céu aberto com vistas panorâmicas com bancos para meditação, tudo extremamente limpo e ordeiro. Sentei frente a um desfiladeiro com mata muito verde, cercado por morros por todos os lados. No fundo do vale, um gato amarelo se preparava para o bote em pássaros silvestres que comiam displicentes sobre a relva. Ao lado um rapaz de pele alva lia um livro alemão e do outro uma senhora anotava impressões num caderno ao mesmo tempo que comentava algo com alguém em uma língua indefinida. Permaneci absorto por uma hora e me dirigi ao pavilhão de venda de água fluidificada e pedras onde retirei a senha de 1ª VEZ com atendimento indicado para o meio dia.
Mais algumas voltas e resolvi almoçar no Jerivá, restaurante conhecido para quem frequenta a BR 040.
Retornei ao centro em cima da hora marcada, 11h 55. O salão que recebe as pessoas para atendimento estava repleto, mas consegui sentar em uma cadeira almofadada. Vários ventiladores espantavam o forte calor de início de tarde. Uma voluntária prestava instruções em português, inglês, alemão e francês. Reparei que muitos atendentes dominam estas línguas, afinal os estrangeiros precisavam entender o que acontecia. De tempos em tempos ela rezava um Pai Nosso e uma Ave Maria e pedia silêncio, afinal, como dizia um quadro na parede, “o silêncio é uma prece”. O salão permanecia lotado e uma fila enorme de pessoas de branco, se alinhava no centro. Mais tarde percebi que eram  médiuns incorporadores de entidades de auxilio a João de Deus.
Após duas horas de expectativa, João entrou por uma porta lateral e ficou defronte a platéia solene e curiosa. A comoção imediatamente tomou conta de todos e iniciaram-se cirurgias espirituais com corte. Muitos levantaram para testemunhar de perto e outros ligaram máquinas fotográficas e filmadoras e iniciaram, sem constrangimento, a filmar os procedimentos. As pessoas destinadas a cirurgias formaram um semi-círculo a volta do médiun, o qual fez o reconhecimento da doença de cada e iniciou os trabalhos. Pegou uma tesoura pontiaguda e enfiou pelo nariz adentro em uma moça que parecia estar em transe pois não esboçou nenhum medo ou dor. Após pegou uma faca de cozinha e iniciou o processo de raspar os olhos de outra. A seguir futucou na barriga da terceira, retirou algo e depositou na bandeja,  que foi retirada. Cada paciente que passava pela cirurgia, perdia os sentidos e era colocado em maca e transferido a outra sala, onde ficava recuperando, semelhante ao pós-operatório na medicina tradicional.
Após os procedimentos o médiun  retirou-se e a moça que falava várias línguas conclamou aos outros que esperavam cirurgia, que fizessem fila no local indicado. Formou-se nova fila enorme que, após breve tempo, todos adentraram de forma ordeira por outra porta. A jovem que organizava os passos dos visitantes continuava sua pregação destinada a evitar as conversas paralelas e manter a concentração das filas. Um vídeo mostrava cirurgias com cortes sem sangue, o pessoal olhava e comentava. O calor apertava, mas ventiladores amenizavam o efeito e o ambiente permanecia confortável. Reinava descontração com respeito no ambiente manifestado pelo bom humor de atendentes e pacientes.
As pessoas com fichas de 1ª VEZ, como a minha, foram chamadas e  formaram fila e, fomos encaminhados a porta por onde seguimos através da sala de médiuns, vestidos de branco, que permaneciam concentrados em torno dos pacientes. João de Deus atendia ao fundo de outra sala e logo o percebi sereno sentado e dando atenção a romaria que um a um se aproximava de mãos baixas. Ele ouvia as queixas, anotava em um papel e entregava a cada um. Quando chegou minha vez, reparei que a anotação era inteligível e compreendi que era simbólica e representava um pote de remédio a ser adquirido na farmácia local. Perguntou-me o que sentia, respondi e João falou com toda simplicidade acostumado a ouvir queixas o dia inteiro, todos os dias da semana, “cirurgia”.  Peguei o papel, saí pela porta indicada e comprei a medicação prescrita.
Enquanto espero a cirurgia, que, por decisão pessoal será sem cortes, fico a pensar na procura ilimitada do ser humano quando o assunto é saúde. Gente do mundo todo deixa para trás os afazeres, suas casas, confortos e se dirigem a inexpressiva Abadiânia a procura de alternativa para o que a medicina, por mais avançada que seja, responde de forma inadequada ou oferece tratamento doloroso, caro e por vezes inócuo. Nas tantas mensagens proferidas pela orientadora, uma dizia que grande parte da eficácia da cura estava na forma de encarar o tratamento espiritual e na força do Deus pessoal. Entender que a cura está dentro de cada um, certamente ajudará o tratamento mediúnico a um efeito eficaz. E, por diversas vezes instrui ao paciente a continuar seguindo a orientação médica. “Obedecer ao tratamento que faz com a medicina alopática é garantir a participação e o acompanhamento pessoal no caminho da cura.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é importante