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quinta-feira, 10 de março de 2011

Momentos de Verdade

“Eu preparo três taças para o moderado: uma para a saúde, que ele sorverá primeiro, a segunda para o amor e o prazer e a terceira para o sono. Quando essa taça acabou, os convidados sábios vão para casa. A quarta é a menos demorada, mas é a da violência. A quinta é a do tumulto, a sexta da orgia, a sétima a do olho roxo, a oitava é a do policial, a nona a do ranzinza e a décima a da loucura e da quebradeira.” Eubulus – Administrador de Atenas

Lembro do texto ao servir a taça de vinho e preparar a filosofia diária.
Em consulta ao cardiologista, recebi o alvará da saúde cardiovascular e a recomendação de consumir duas taças diárias, “ajudam a manutenção do aparelho circulatório”. Sigo o conselho há quatro anos.
Acomodado em frente ao teclado, aflora o tema instigante: os momentos de verdade. Determinados por acontecimentos inesperados impedem a sequência do plano de vida previsto. Normalmente são doenças graves, uma relação desfeita, perda de ente querido, doença de filho, demissão de emprego ou mudança de carreira. Situações que obrigam a repensar valores, caminhos e planos que poderão ser até abandonados, caso o momento o exija.
Particularmente, passei por todos.
Nestes períodos, é comum sentir mal estar por dias, semanas e até anos. Mesmo consolados por pensamentos de compreensão e preparo, atingem, não pela intensidade de sofrimento, mas pela significação e verdade reveladas. Interrompem o bem estar diário, a rotina conhecida e fazem mergulhar no desconhecido, aflorando a sensação de que o fundo do poço está longe ou inexiste. Normalmente o desconforto é tamanho que há quem se prostre, longe da reação exigida pela vida, que não pára a espera. E, pasmem, anteriormente até reclamava da monotonia e da mesmice.
Quando as coisas vão mal, começam os questionamentos e a procura de culpados. Por que isto está acontecendo? Qual o propósito? O que e como fazer? E a pergunta que não quer calar: Quem fez isto?
Acontece durante o período confortável, esquecer a ajuda aos necessitados, querer créditos e endeusamentos. Julgar-se livre de males e superior ao semelhante. Ver apenas o umbigo. Por isso, quando os momentos verdade desequilibram, a culpa nunca é assumida e sim imputada ao próximo.
Encarar esses momentos com sabedoria, consciente do crescimento que representam e isentar o próximo pela culpa dos males, é sinal de segurança.
Seguir trilha traçada por outros é seguro, mas é negligenciar a capacidade de superação. Tomar as rédeas da vida nas mãos é colocar-se a prova e analisar o momento verdade como autoconhecimento.
Escolher caminhos é algo a fazer cedo ou tarde e as situações advindas disto serão mais ou menos traumáticas, dependendo da filosofia de vida de cada um. Mas convenhamos, imputar as dificuldades dos momentos verdade aos outros só retarda a superação dos desafios.

“A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” Anônimo