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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A ETERNA BUSCA

(Google Imagens)

Apesar das inúmeras cobranças de parentes, de ser considerada final da fila pelos amigos e dos sete anos de namoro, Bete permanecia convicta de que casamento é coisa séria, decisão a ser tomada de cabeça fria e amor no coração. Antonio ao contrário, desejava o matrimônio desde os dois primeiros anos. Achava que conhecia Bete suficientemente e isto garantiria relação prazerosa. Nem imaginava que, apesar de gostar muito, a moça desacreditava que a relação fosse dar certo.
O casamento aconteceu e, ao final da primeira semana, apareceram os estranhamentos. Calcinhas e toucas penduradas no box do banheiro e, em cima da pia aparelhos e cremes de barbear e toalha molhada amontoada sobre o vaso sanitário. Objetos fora de lugar que no inicio nada representavam,  passaram a ser os motivos de rusgas.
Dos seis anos de casamento, cinco foram de calmaria e entendimento. Inclusive nos gastos, até porque viviam do salário de Antonio. Precisavam economizar e as despesas eram milimetricamente calculadas. Preferiam assistir filmes em casa a sair com amigos. As sessões de cinema precediam intensos momentos de amor, única diversão intensa do casal que, apesar disto, nem pensava em filhos.
Bete classificou o casamento como troca de dependência : de cuidada pelos pais, passou a ser pelo marido. Fez psicoterapia e mudou a forma de encarar e assim entendeu as atitudes de Antonio que a tratava como “companheira do lar”.
No último ano, as diferenças apareceram gritantes. Ela passou a se queixar de que o marido tinha um gênio difícil e problemático e algumas atitudes a deixaram chateada ao ponto de iniciarem o rompimento, permanecendo dias sem trocarem palavras.
Cada um com seus motivos, quando estavam em casa, passaram a se  comunicar com “amigos” da internet. Permaneciam muito tempo em frente a telinha a teclar com desconhecidos em confidências acaloradas que certamente, ambos entendem hoje, só serviram para distanciá-los.
Ao final, fizeram uma trégua e desfraldaram a bandeira branca e a relação tumultuada deu lugar a convivência amigável, quase de irmãos. Como não era isto que pensavam para a relação a dois, Antonio resolveu sair com  alguém que conhecera num site de relacionamento. Bete, estranhando o pouco interesse, chamou-o para conversar e concluiu após vasculhar o celular do marido ao esquecer para tomar banho, “homem é covarde, faz de tudo para a mulher pedir separação”.
Os procedimentos de desenlace demoraram nove longos meses, período que Antonio classificou de “muito sofrimento”, principalmente porque o pai, que adorava a nora, segundo ele, morreu em decorrência do “desgosto”.
Bete durante o processo de separação se consolava chorando pelos cantos do apartamento vazio e o hábito de assistir filmes, uma das poucas diversões, finalizou melancolicamente ao assistir “Quando a Amor Acaba”, onde gastou as últimas lágrimas. Sozinha, perdeu o interesse em alugar novos títulos.
Filha de pais rígidos, durante o período que permaneceu casada, Bete seguiu a risca a educação paterna, imitando a disciplina herdada. Desde o inicio queixava-se da visão financeira do marido da qual divergiam seriamente. Conheceram-se e casaram em São Paulo e mudaram para Brasília, onde Antonio passara em concurso público.
Na capital, tiveram a primeira oportunidade de convivência sem interferências da família. E foi quando as rusgas aconteceram. Por ficar longo período sem trabalho, Bete pediu cartão adicional da conta salário do marido e nunca o perdoou pelas negativas ríspidas, batidas de porta e silêncio com relação ao assunto. Mais do que para proveito próprio, entendia como uma espécie de segurança para o dia a dia caso ocorresse algo, um acidente ou coisa semelhante deixando-o impossibilitado de passar senhas confidenciais.
Antonio também apresentou queixas financeiras. Quando a mulher passou a trabalhar, solicitou que dividissem as despesas e ela negou, alegando que ganhava pouco, portanto, ele deveria arcar com tudo sozinho.
Bete sempre detestou demonstrar fragilidade e, nos momentos de solidão no apartamento, procurava pensar com otimismo. Aprendeu com ensinamentos de avós japoneses que “na vida os sábios devem ouvir mais e falar menos”. Tem receio de se mostrar e se considera autocrítica e perfeccionista.
Olha pela janela e pensa na juventude. Lembra ser a responsável pela conquista de Antonio e, apesar dos pesares ainda o ama. Mas se ele quiser voltar, não pensa duas vezes “não o quero mais, ficou a experiência negativa de um sonho desfeito a dois”. A mágoa da relação é acreditar que perdeu treze anos de vida. “No final, tanto investimento emocional para nada”, desabafa.
Nem tudo se perdeu para Bete, muitas coisas significantes aconteceram e reconhece “... a relação me trouxe a Brasília, onde conheci muitos amigos e iniciei o processo de independência financeira de minha família”.
Ambos, separadamente, procuram caminhos. Bete dentro de si mesma, abrindo-se a novas relações, conquistando amigos, saindo e dançando. Entre os dois, as conversas escasseiam, não há pontos em comum, pois Antonio está em nova relação e a mulher espera um filho. Por duas vezes encontraram na rua e preferiram passar um pelo outro sem conversar.
Na verdade, procuram relações que espelhem aos pais, que consideram modelos de parcerias. Nada mais errado. São gerações diferentes e o que serve ao homem e a mulher de hoje, certamente se diferencia dos pais.
Os jovens casais buscam nova forma de ambientação para a vida a dois, pois com tantas possibilidades de relacionamentos e tecnologias de redes sociais a disposição, é impossível permanecer isolados. Manter-se conectado o tempo todo conduz jovens casais a pseudo plenitude de relacionamentos virtuais que, mal administrados, passam falsa sensação de completude emocional e de estarem rodeados de pessoas, quando na verdade estão sós.  
As redes sociais, que deveriam cumprir um papel secundário nas relações apenas para comunicação, se tornam um fim em si mesmo, facilitando, apresentando e descartando estranhos.

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