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domingo, 15 de julho de 2012

SARU

Saru costurando ( arquivo pessoal )

Saru Yamagushi tem 97 anos, nasceu em 08 de novembro de mil novecentos e quatorze. Mora em Caldas Novas desde 1988, mas já morou em São Paulo e Paraná, onde tem a maioria dos parentes. Aos dezessete anos,  ainda adolescente, chegou ao Brasil, procedente de Hokkaido, segunda maior ilha do arquipélago japonês, na esperança de testemunhar o que ouvira ainda na terra natal : “um país ótimo para viver”.
Casou-se com um paulistano dez anos mais velho com quem aprendeu que a vida não era tão simples como lhe ensinaram. O marido alcoólatra obrigou Saru, educada a aguentar tudo do companheiro, a conviver com a doença resignadamente até sua morte, por problemas no fígado. Teve nove filhos dos quais oito estão vivos e residentes em diversos lugares do país. Com a morte do marido, manteve a mercearia da família na cidade do Gama em Brasília, de onde sozinha, tirava o sustento da família.
Criou os filhos repassando a rígida educação aprendida dos pais que ficaram no Japão. Apesar disso, Saru sempre tratou os filhos com carinho, os quais “encaminhou com princípios de ética e honestidade”.
Ao chegar a casa de Saru encontrei-a pedalando em uma bicicleta adaptada por seu filho caçula Mutian, que proporciona que ela pedale praticamente deitada. Um exercício que o filho caçula a submete diariamente por pelo menos uma hora. “Assim mantenho a mãe muito bem exercitada e com a mente boa”, diz com convicção. Mutian é o filho dedicado e de quem procede toda ajuda e com quem mora numa espaçosa casa da cidade termal goiana. Quando fala sobre a mãe, se emociona e demonstra orgulho em ser o único a dedicar amor, tempo pessoal e conforto na velhice de quem classifica ser a responsável pelo seu sucesso como ser humano.
Pedalar vem de família. Mutian, coleciona entre medalhas e troféus, mais de 240 itens relativos a participações e boas colocações no ciclismo. Ao mesmo tempo que exercita a mãe, a prepara para melhor competir com o avanço da idade.
“Há treze anos atrás mamãe vivia no Gama com minha irmã, mas quando lá cheguei percebi que estava em condições muito difíceis, prostrada em uma cama e com um furúnculo nas costas, pronta para morrer. Minha irmã não dava conta de cuidar dela. Trouxe-a para Caldas Novas definitivamente e aqui criei uma estrutura confortável. Aos poucos, constatei a veracidade do ditado que os pais criam oito filhos, mas oito filhos não cuidam dos pais”.  Mutian fala da mãe com orgulho, “...ela cozinha e costura diariamente, a mão ou na máquina.” Vira-se para o pequeno relógio de parede do quarto onde costura e pede a mãe que fale as horas e ela responde com firmeza “são cinco e meia.”
Mutian, que é aposentado, ainda prepara surpresas para a mãe. No natal de 2011, arrumou a veraneio e, dizendo que iriam a um passeio pelo interior goiano, alojou-a no banco traseiro e a levou para visitar parentes em Paranavaí no Paraná. Foram mais de mil e quinhentos quilômetros de estrada. Saru, que ignorava aonde iam, quando lá chegou teve uma das maiores emoções, pois encontrou pessoas das quais estava afastada a mais de cinquenta anos. Mas sempre falava ao filho querer realizar este sonho.
Esta japonesa que escreveu sua história no Brasil, onde teve negócios e concebeu família, esbanja ótima saúde. Prova disto é que há dez anos atrás, já aos 87 anos, quebrou o fêmur e se submeteu a delicada cirurgia para colocação de vários pinos. Seu filho cuidador não mediu esforços com a mãe impossibilitada de engessar e, graças a esta dedicação, o osso colou naturalmente e Saru caminha com a mesma facilidade anterior, sem seqüela.
Pelo visto conseguirá realizar o sonho de comemorar os cem anos na cidade natal, desejo que Mutian quer proporcionar a mãe, para rever parentes que nem sabe se ainda vivem. Saúde física e mental tem de sobra, com 40 quilos e pedalando diariamente, se condiciona para a realização do sonho da viagem. Saru quando fala do Japão se emociona, contagiando a todos e principalmente ao filho que é parte indispensável no projeto. Mutian disfarça a emoção e recomenda “para a senhora ter forças para esta viagem, terá de pedalar muito nesta bicicleta”. Saru pede licença, levanta, despede e, disciplinada, se dirige a varanda onde está o aparelho.

4 comentários:

  1. Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é realidade. (Me deparei lendo o texto e ouvindo a Elba Ramalho cantando esta canção).
    Dona Saru tem um grande filho.

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    1. A dedicação dos filhos para com seus pais gera vida longa para eles. Bons filhos, serão bons pais e assim segue a humanidade. Abraço.

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  2. Texto sensível e cheio de lições. Parabéns!!!

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    1. Obrigado Amanda. Elogio vindo de colega de Jornalismo Literário, me incentiva cada vez mais neste trabalho.

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