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sábado, 29 de dezembro de 2012

VIAGEM PARA O DESCONHECIDO


(Google Imagens)
A cada início de ano fico saudoso. Vou contar como tudo começou. O Ano Novo coincide com minha chegada a Brasília, pois aportei pelas terras da capital em janeiro de mil novecentos e setenta e quatro. Passei o Natal em Porto Alegre e no dia seguinte, 26 de dezembro, com mais dois colegas recém formados, dividimos as despesas e viemos num novíssimo Corcel ano 72, amarelo. É verdade que havíamos ganho passagens de avião, mas preferimos o nosso meio de transporte. Hoje, analisando o porquê disto, penso que foi pelo tempo de viagem. Por ser mais demorado, o carro proporcionava melhor conscientização da distância que representava a mudança de vida. Tanto é certo, que deveríamos apresentar no emprego em dois de janeiro, “sem atrasos”, conforme avisou o empregador e, após perdermos tempo tentando sair de São Paulo devido a desvio de rota, chegamos somente dia 3.
Nada era como hoje. Brasília não tinha semáforos e as diversões se restringiam aos churrascos em finais de semana na chácara de alguém ou ao pé das cachoeiras, silvestres e seguras.
Em finais de semana as ruas eram vazias de carros e gente. Poucos bares e restaurantes divertiam os que viviam por aqui. Nas quadras, os moradores faziam festas privadas e aqueles com filhos menores, programavam reuniões para aumentar os círculos de amizade.
Os cinemas eram poucos e as boates raras, das quais lembro do Xadrezinho em frente ao clube Cota Mil e do Tendinha, perto do Hotel Nacional. Namoro mesmo, para valer, era na fonte luminosa, onde tudo começava e terminava durante as sessões de cine-driven, dentro do Autódromo.
O Lago Norte era puro matagal. Certa vez, levado debaixo de chuva por corretor até  terreno para comprar, tivemos que seguir bom pedaço a pé. Na volta, embarrado até o pescoço e cansado nem quis falar sobre o assunto e, com dinheiro suficiente para comprar o terreno, decidi pela aquisição de um fusca na Concessionária Valença do posto da Torre. Nem com o corretor pagando refeições no restaurante di Roma do Setor Comercial Sul, fui dobrado para adquirir o imóvel. Hoje um terreno naquela localização, daria para comprar três Mercedes. Sem queixas, porque a vida destrata os arrependidos.
Prefiro a capital de hoje, com cara cosmopolita. Cheia de gente, engarrafamento e plena de atividades, pois o tempo que sobrava naquela época geralmente era mal consumido.
Brasília é jovem senhora, plena de sedução, ainda infantil e doce nos seus 50 anos. Aqui faço minha vida, moro, trabalho e divirto. Acostumei com as mudanças no corpo desta moça. Das retas e curvas que, por mais que os governantes mudem o traçado, nunca perderá o esplendor e graça. As autoridades perdem o poder no vai e vem político e a cidade permanece altiva e serena, guardando no  seio a nova geração nascida no solo ardente, que cuidará da mãe gentil com zelo. 

6 comentários:

  1. Lembro de Brasília em 1969. Quietude e harmonia foi encanto a 1ª vista. O aeroporto militar ainda de madeira, a catedral no concreto e ainda sem vidros, poucos ministérios; o Colégio Setor Leste, público e de excelência; os redemoinhos de vento faziam papéis e folhas rodopiarem sua paragem; a W3, avenida apaixonante, e movimentadíssima etc. 1970 chegada da seleção brasileira e a taça Jules Rinet desfilando, no calmo, Eixão. São muitas as recordações...

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    1. O espanto foi quando encontrei os primeiros quero-queros. Aves da região sul do Brasil, começaram a chegar tímidas e hoje são vistas por toda cidade. Basta um campo e lá estão os casais, territoriais e possessivos com seus filhotes. Guardiões fiéis dos ninhos e das crias.

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  2. Não conheço Brasília, mas está nos planos. Gostei do texto e das seleções. Depois retorno para ler com calma.
    Agradeço pela adição. Que 2013 seja piedoso e proveitoso.

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  3. Aposto um fio do seu bigode que o fusca te trouxe muito mais alegrias do que a compra do terreno.

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    1. O terreno me ancoraria no chão e o fusca ao contrário, me soltou no mundo. Muito melhor mesmo.

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