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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

VERDES MARES DO NORDESTE


(Cumbuco-CE - Arquivo Pessoal)
São quilômetros e quilômetros da linda beira mar oeste. Aqui e ali coqueiros carregados oferecem frutos para o viajante sedento. O sol forte clareia a paisagem de amarelo ouro e vez por outra aparece alguma lagoinha salgada para banho puro e sem ondas.
Como diria Ana Miranda, poeta cearense,
E quando ali retornarmos
Verás que nunca nos fomos
Pois o lugar onde estamos
O lugar onde estaremos
É sempre o lugar que somos

Assim reencontrei o litoral cearense, após dois anos. Desta vez, foram quatro dias intensos de emoções, conhecimento e restauração de energias. Compartilho com quem gosta das pequenas coisas da vida e que, como eu, julgam ser as verdadeiramente importantes.

(Pousada Ondas do Mar - Arquivo Pessoal)
 Hospedamos em encantadora pousada na região de Barramar de Taíba, a cerca de 70 quilômetros de Fortaleza. O acesso acontece por estrada de terra trabalhosa, esburacada, cheia de pedras, mas o destino recompensa. Propriedade de casal italiano, a pousada Ondas do Mar é aconchegante e intimista e os donos, Milton e Maura, estão sempre dispostos a resolver quaisquer problemas que apareçam. Com eles, revivemos cenas dos meus ancestrais também vindos da Península Ibérica em fins do século XIX. Situação semelhante a deste casal, fugiram da situação calamitosa que se abatia sobre a Europa. Em princípio do século XXI, novamente o caos econômico se abate sobre o Velho Continente e obriga famílias inteiras a emigrar e ao que parece o Brasil novamente é o destino. No final do ano estarão se radicando definitivamente no país e trarão a única filha, o genro e o neto para trabalharem na pousada. Encontrei vários empresários europeus, principalmente italianos, espanhóis e franceses investindo no litoral cearense, montando comércios, resorts, hotéis, restaurantes, pousadas e outros negócios. Louvam as possibilidades que o país oferece para estabelecer. O que chama a atenção deles é o clima, “calor o tempo todo”, fala Milton apontando para a camiseta regata, bermuda e chinelos confortáveis.
Meus planos desta vez era conhecer Paracuru, praia distante de onde estávamos apenas 30 quilômetros. E isto aconteceu no segundo dia. Na ida, querendo economizar tempo aventurei-me em estrada de terra pedregosa e poeirenta, mas alternativa de atalho substancial. O que nos deu chance de fazer a foto de um cajueiro, entre as centenas existentes em plantação nativa. Malu e eu fomos ciceroneados por Karina, minha filha que mora na praia de Taíba e o namorado Nacélio. Ao chegar a cidade, na primeira oportunidade, colocamos os pés na água e constatamos a temperatura extremamente confortável. Enquanto o sol contornava em volta da barraca do Kaká, sem nos atingir, conversávamos embalados pela brisa amena que amansava o calor abrasador. O céu carregado de kitesurfs com suas pipas amarelas, lisas, estampadas, desenhadas, amarelas, azuis ajudava ao assanhamento dos turistas de várias idades e nacionalidades, ávidos de usufruir da boa vida tropical. Casquinha de caranguejo foi a entrada, acompanhada de refrescante caipirosca e porções de camarão, dos grandes. No almoço, um delicioso dourado com saladas. Postas fartas preparadas com esmero. O cachorro ao lado da mesa cansou de esperar e foi embora, certamente percebeu que daquele mesa não teria sobras. Sem pressa, alongamos o papo por pelo menos seis horas. Esticamos ao máximo, pois sabíamos que cada minuto era importante considerando o pouco tempo de estada em solo cearense. Saímos de Paracuru ao entardecer e paramos em uma lagoa para conhecer e tomar água de coco. Logo fomos cercados por famílias de ovelhas protegidas por um bode ranzinza que me encarou várias vezes, gansos, patos e um pavão que teimou em deixar o longo rabo colorido fechado. Durante todo tempo acompanhamos a sedução de um peru, este sim de rabo aberto em leque, que de nada adiantou pois a perua estava firme no propósito de manter a guarda fechada. Ao anoitecer, retornamos a Taíba para tomar açaí na tigela, a delicia do norte/nordeste. O retorno aconteceu pela estrada asfaltada, claro, pois de poeirão bastou a ida.
(Altar em Cumbuco - Arquivo pessoal)

No terceiro dia, Malu e eu testemunhamos o casamento de filhos de amigos de Brasília na praia do Tabuba, em Cumbuco, distante 30 quilômetros de onde estávamos, sentido retorno a Fortaleza. A cerimônia foi montada em um altar simbólico e singelo, com galhos de árvores nativas fincados a beira mar. Emoldurando a cena, um belíssimo por do sol e alguns surfistas que cortavam ondas em pranchas velozes. No céu, pipas de kitesurf ondulavam em vai e vem lento. A noiva, com o mais belo dos calçados, os próprios pés, bailava com o vento e com a felicidade que só as noivas sabem e comentou que “não cabia em si mesma de tão contente”. Transbordava a alegria para convidados, na grande maioria, viajantes que deslocaram cerca de dois mil quilômetros participar do evento paradisíaco. Ao final da festa, o noivo, com o calor que fazia, dispensou o paletó e abriu os botões da camisa, celebrando o clima de descontração emprestado a festa. Uma bela e ao mesmo tempo singela cerimônia que satisfez os gostos mais exigentes, com simplicidade, carinho e alegria.
Ao final da festa, retornamos a pousada. À nossa direita, fomos homenageados  pela noite do Ceará, que ofereceu a lua a pratear o mar, a estrada e a vegetação durante todo caminho de volta.
O dia seguinte amanheceu mais bonito que os outros, como se  fosse possível. Tomamos café, tiramos algumas fotos finais com Karina e o namorado na pousada onde residem e, duas horas depois estávamos no aeroporto de Fortaleza. A aventura chegou ao fim. O sentimento é de tempo  bem aproveitado. Constatamos que temos tudo para conhecer lugares e pessoas interessantes. Basta boa vontade, olhos abertos e disposição. Lugar de descansar é em casa. Todos os minutos foram curtidos por inteiro e os compartilho tal e qual ocorreu.
Espero que o litoral resista a erosão crescente, provocada pelo oceano e pelas areias que tomaram várias obras a beira mar.

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