(Google Imagens) |
Estou
há um mês sem assistir TV. Deixei a divulgação para após este prazo, esperando
amadurecer a façanha. Tudo começou com Uma reclamação simples, que um produto
igual ao meu, na televisão, era melhor. Após longa discussão com um amigo,
concluímos que
tudo na telinha é lindo e que a imagem virtual é mais exuberante
que a real. Saquei então que isto é uma das molas mestras da ilusão que mantém
as pessoas magnetizadas. Isto descoberto, tracei o projeto hercúleo de desligar
da telinha.
Confesso
que inicialmente me senti perdido em casa, fora de órbita. Tive problemas de onde
colocar as mãos, focar os olhos e por várias vezes parei frente à TV, controles
na mão, olhando a tela escura. Aos poucos desconectei e percebi os quadros
tortos deixados pela faxineira após a limpeza. Aprumei-os. Passada a primeira semana, ganhei novos
horários para executar trabalhos caseiros. Passei a ler mais e escrever se tornou tarefa mais proveitosa, sem
interrupção. Assim, lavar a louça diária e estender a roupa de cama exercito
com afinco, sobrando tempo para cinema em dias de semana. Em quinze dias, agreguei
a arrumação da mesa de trabalho, da estante repleta permanentemente de livros
fora de lugar, e ainda sobra para cafuné na nina, a cadela que há tempos reclamava.
Há
trinta dias chego cedo às reuniões, no horário na natação, cumpro compromissos nos trabalhos voluntários,
enfim, sem estar aprisionado pela telinha, saio de casa sem atrasos.
Me
arrumo melhor, pois nada me distrai daquilo que faço. E descobri a utilidade do
aparelho ao lado da TV, há anos invisível. O aparelho de som. Por força do
hábito, no inicio esperava imagem, mas logo percebi o engano. Com o rádio, vou
ao banheiro, quarto, cozinha sem preocupar em perder algum acontecimento. Ligo
ao levantar e ouço enquanto em casa. Já me surpreendi ora cantando, ora
assobiando. Parei de me entupir com assuntos irrelevantes. E o importante é que
posso desligá-lo a bel prazer, sem a sensação do vazio. Da falsa impressão de perder
algo importante.
Desconheço
a rotina de seqüestros, de assaltos a banco, de mortes. São todos problemas da
Polícia, do Governo ou de quem é pago para isto. Meu nível de stress diminuiu e
agora ouço os passarinhos que cantam em sinfonia pela manhã. Cordão umbilical
cortado com a TV, as noites melhoraram. Substitui os programas de entrevistas e
apresentações que me magnetizavam por horas, provocando insônia crônica, por leitura.
Resultado? Botei fora os remédios para
dormir, pois o sono é provocado pelo bem estar de um livro. Ler ao dormir, além
de acalmar a mente, prepara o sono, contribuindo até para o sonho leve. Acabaram
os pesadelos recorrentes que me assombravam depois dos filmes da madrugada,
E
o melhor de tudo é que, sobrando-me tempo, recomecei a procurar amigos. Dedico
uma hora diária para falar com eles por telefone, quando tem tempo, claro, pois
são muito ocupados vendo TV. Quando ligo, costumo pedir desculpas pois sei que interrompo
algum programa policial, telejornal ou novela “imperdível”.
Passei
a escutar o silêncio da casa. Quando chego da rua, independente da hora, ligava
a TV em qualquer canal e a deixava tagarelar nos meus ouvidos, impedindo-os de
ouvir pensamentos que se agitavam atrás da penumbra de propagandas,
apresentadores de remédios para emagrecer e demais bombardeios. Às vezes, o
apresentador era tão convincente que me impunha culpa da situação de desastre da
enchente na China forçando-me a fazer algo para impedir.
Reconheço
a competência da mídia que causa necessidade de consumir produtos absolutamente
inúteis. Apresenta pessoas extremamente felizes que descobriram a fórmula do bem
viver. Novelas exibem a falsa ilusão de uma sociedade consumista fútil com
comportamento irreal, mas a ser seguida
para conseguir a felicidade do pobre telespectador.
Imagino
famílias conduzindo vidas por esta mídia cruel, hipnotizada pela magnetização da telinha. São quatro, cinco pessoas mudas em uma mesma
sala. Ávidos de saber onde encontrarão produtos para amenizar dores e
sofrimentos. Se alguém fala, tentando sair da robotização, outro pega o
controle remoto e aumenta o volume, calando a boca do coitado que se queixa,
quem sabe, do resultado do exame de sangue descontrolado feito naquele dia.
Estou
curtindo momentos sublimes há um mês. Meu conteúdo como ser humano, melhora a
cada minuto. Consigo conduzir conversas reflexivas, entendo melhor a vida e
intercorrências. Mantenho a mente livre para pensar sem influências externas.
Até
consigo ficar ocioso sem culpa. Sem planos ou projetos de comprar isto ou
aquilo, apenas pensar na vida e nas pessoas. Andava desacostumado disto e ainda
estranho. Acredito que descobri porque o tempo anda curto para todos.
Eu sou do time dos sem TV . INFELIZMENTE a família não compactua.
ResponderExcluirCena rara eu e a TV
A Tv definitivamente é algo dispensável. Posso viver sem, portanto, vivo.
ExcluirBem, TV aqui em casa acontece, mas não domina.
ResponderExcluirEstamos muito envolvidos um com o outro, os dois com o cachorro e os cuidados com a casa, depois, eu com o jardim e o quintal e ele com sua música. Às vezes toca piano, outras ouve o som.
E os idas vão se sucedendo sem que a monotonia ou o tédio tenham oportunidade de invadir nosso recanto.
Não se deixar dominar pela telinha já é um grande negócio. Mas coloco a TV no mesmo nível do cigarro: se posso ficar sem fumar, porque fumar um por dia?
ExcluirÓtimo texto! Parabéns por ficar um mês sem assistir TV e olha que eu já estou ha quase um ano... hehe. Por isso mesmo, sei de todas as vantagens que vc colocou no texto!
ResponderExcluirEntão falas com experiência. Passou da fase da abstinência. Ainda tem momentos que me pego com o controle remoto na mão, que logo descarto.
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