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terça-feira, 10 de setembro de 2013

A CORRIDA

(Google Imagens)
Num domingo de sol, em plena primavera seca da capital federal, Carmem corre no Parque da Cidade, movida pela vontade de participar da São Silvestre em São Paulo. O suor morno da moça, perfumado por adocicada fragrância encanta jovens que esbanjam vigor físico e energia. Com cabelos negros e tez morena, é logo percebida pelos corredores.
- Cansou? – Comenta um jovem sorridente de moletom vermelho que reconhece ser Tiago. Ensopado de suor emparelha com a moça, reajustando a velocidade a dela.
Haviam se conhecido durante o doutorado na Universidade de Sorbonne em Paris. Alugar apartamento de um quarto os levou a vida de casados e se mostrou péssima solução para ela. Tiago quis seguir a mesma convivência no Brasil, mas Carmem o conscientizou que aquela solução valia apenas para aquele período e cada qual seguiu vida própria. Agora, passados quatro anos, Carmem é funcionária de multinacional e Tiago, sem objetivos, está desempregado e leva a vida as custas da mãe aposentada.
- Cansei nada. Treino para a maratona de final de ano. O que menos  interessa é a velocidade e sim a resistência. – A moça conhecia a vida desventurada do rapaz. Sentiu-se insatisfeita com o encontro.
A vida com Tiago em Paris se tornara catástrofe emocional e serviu de  experiência a moça. O rapaz era impetuoso, pleno de ambições e iniciativas, que logo arrefeciam, dando lugar a uma tristeza profunda. No segundo mês do curso que durou dois anos, a mãe dele chegou ao minúsculo apartamento e ali completou o tempo com eles.  A convivência só se manteve porque Carmem evitava encontrá-la. A sogra, mulher extremamente metódica, se ocupava com atividades fora de casa, corrida matutina, academia, passeios pela cidade e outras que Carmem desconhecia e nem se interessava. Conhecer os horários da mulher, ajudou-a a regular o próprio tempo e retornar  em horários diferentes. O filho, alheio a tudo, vivia feliz no mundo da mãe.
- Soube que casou. – emendou o rapaz tentando engatar conversa, após silêncio dos cinco minutos iniciais.
- Sim, com Maurício, o biólogo, lembra?   – Retrucou a moça com mau humor. – Tenho um menino de dois anos.
- Aquele babaca? Por isso nos visitava diariamente. Pleno de atenções com você.
Tiago recordava de Maurício. Um francês com cabelo amarrado em rabo de cavalo que, mesmo com namorada dava em cima de Carmem. Conclui que foi péssimo abordá-la no Parque.
O silêncio teima em pairar entre eles. A moça recorda claramente da implicância do rapaz com Maurício e deseja que vá embora de sua vida. Considera que a aproximação dela com o marido só aconteceu para confidenciar escapadas de Tiago, ajudado pela mãe.
Ao olhar para o lado, o rapaz percebe a grama seca, onde ciscam pardais levantando poeira densa. O Ipê amarelo a exibir a florada exuberante, é ignorado por ele. A corrida o extenua e o fôlego arrefece. A jovem percebe.
- Bem, até mais, boa sorte. – Carmem aperta a corrida. Ele pára e agacha arfante. Ela segue em frente, busca o preparo para acompanhar Maurício na São Silvestre.

Um comentário:

  1. Excelente! Um continho emblemático, ou melhor, os personagens são. Parabéns.

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