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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

CUSCO - PERU – 3.400 METROS

(Centro Artesanal de Cusco - arquivo pessoal)
Terminei de arrumar a bagagem e, no horário marcado, a van esperava a porta do hotel. Após uma hora buzinando pelo intrincado trânsito da capital peruana, ainda cansados pela agitação dos dias intensos, a van chega a porta do terminal.
Como o aeroporto de Lima não anuncia as partidas de voos, feito o chekin,  fui direto ao portão de embarque, onde um jovem casal tagarelava em português sobre peripécias em praias peruanas. Eram surfistas. Perguntei de onde eram e a simpática loira aparentando cerca de vinte e cinco anos, responde alegre “eu, de Florianópolis, ele de Curitiba”. Vinham de temporada em Pico Alto, praia conhecida por suas ondas gigantes, especialidade do jovem. “Eu sou marraqueira”, sorri a moça “surfo em ondas pequenas”. “Há muitos brasileiros praticantes de surfe por aqui”, explica o rapaz.
Fomos interrompidos pela funcionária que chamava aos gritos os passageiros dos voos. Despedimos e embarquei no voo lotado por turistas de diferentes nacionalidades. Acomodei-me na poltrona central. Os espaços reduzidos apertaram meus joelhos. Por mímica, um homem sorridente, perguntava a senhora a minha direita, se queria trocar e sentar na janela. Ele oferecia a cadeira na janela e ela explicava, em inglês, que queria permanecer ao lado do marido, sentado do outro lado do corredor. Percebi o que pretendiam e tentei mediar a situação. Só fiz piorar. Minha atitude provocou ira no rapaz que passou a solicitar insistente que levantássemos para deixá-lo entrar. Quando a manobra acabou e retornei, os dois carrancudos fingiam dormir. O voo seguiu tranquilo até a aproximação de Cusco que, localizada entre montanhas, obriga o piloto a manobras apertadas para alinhar a cabeceira da pista.
O tempo em Cusco estava bom, mas a medida que nos movimentávamos, os efeitos da altitude provocavam extremo mal estar. Ainda no aeroporto recepcionistas ofereciam chá de coca para amenizar os efeitos. Por preconceito, agradeci e não tomei.  Já no  hotel, instruído pelo gerente passei a fazer as atividades mais lentamente e provei o chá que a recepcionista oferecia. “Isto é chá de coca. O senhor se sentirá melhor”. Desta vez aceitei. À medida que fazia efeito, o mal-estar dissipava. Nos dias seguintes, pelo menos três vezes ao dia, me servi do chá para combater o mal das altitudes. Um santo remédio.
(Praça das Armas - Cusco - Arquivo pessoal)
O primeiro dia em Cusco foi dedicado a adaptação com a altitude. Os passeios seriam no dia seguinte. Após o almoço, saí pelo comércio para comprar roupas quentes. Ouvi de outros turistas que fazia muito frio em sítios arqueológicos.
Após comprar agasalhos, a chuva fria me fez abrigar no Centro Artesanal de Cusco, uma feira livre de quinquilharias com cobertura. Algo acontecia, o movimento era nervoso. A pequena feira estava visivelmente abalada. Mulheres aos prantos nos receberam com cartazes e a foto de um menino. DEVOLVAM ADLER, dizia o panfleto. Fiquei perplexo ao receber a notícia do desaparecimento do pequeno Adler Esteban, a criança sumira no dia anterior. “Isto nunca aconteceu em Cusco”, dizia a tia da criança fora de si.
A próxima narrativa será dedicada a contar a incrível e trágica história de Adler, um menino de apenas um ano e oito meses, com a qual tive oportunidade de ajudar com o que estava ao meu alcance.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CONHECENDO A AMÉRICA LATINA – PERU – PARTE 3 – LIMA

(Larcomar - Lima -Peru - arquivo pessoal)
Na primeira parte da manhã do domingo, segundo dia em Lima, providenciamos a troca de hotel. Neste, haveria a concentração do grupo de turistas brasileiros, que fariam o roteiro de visitas a Cusco, aos sítios arqueológicos e a uma das maravilhas do planeta, Machu Pichu. Desta vez, um cinco estrelas. Mas como julgo que tempo para curtir hotel é perdido, após deixar a bagagem, pedi ao porteiro que chamasse um taxi de confiança e rumamos ao Larcomar. Seria a despedida em agradável local turístico.
A corrida foi relativamente pequena até o complexo arquitetônico. Uma enorme e elegante estrutura a beira-mar, com três andares, ao ar livre com confortáveis escadas rolantes, repleta de lojas de marcas famosas. Apoiada nas pedras da orla ao alto de um penhasco, a obra margeia o Oceano Pacífico que, majestoso e intrigante, quebra as ondas ao pé da montanha. Com sorte, consegui mesa em um restaurante de frente ao Oceano Pacífico, onde o almoço foi um precioso lagostin acompanhado de vinho tinto. Para completar, vez por outra um parapente sobrevoava o amplo janelão do restaurante, tirando um fino das montanhas que circundam a estrutura.
Ao contrário do que se possa imaginar, os preços praticados por esse comércio são atraentes. Mas como as compras não eram o objetivo da viagem, resisti bravamente e saí sem sacolas.
O acesso à praia é por enorme escadaria que, após analisar a escalada de volta, desisti antes de começar a descer. Avistar e sentir o odor da maresia do Pacífico me satisfez e ficamos, da amurada, mirando as ondas que levavam e traziam surfistas e kitesurfistas a deslizar suavemente. Por toda orla a perder de vista, a areia cinza me chamou a atenção, visto estar acostumado às areias brancas do litoral brasileiro. As cinco da tarde o shopping transbordava de turistas ávidos que consumiam de tudo. Lanchonetes e restaurantes lotados e filas de espera quilométricas. Era hora de voltar. Negociei o preço da volta igual ao de ida e retornamos com o taxista buzinando freneticamente a qualquer movimento estranho.
(Vista da Orla do O. Pacífico, a partir do Larcomar - Arq pessoal)
No prédio do hotel, com acesso interno, um shopping foi o destino para lanchar antes de dormir.
Tive noite agitada. O movimento de conhecer lugares diferentes, e talvez o fato de estar fora de meu país, provocou um pesadelo noturno, que me deixou acordado por várias horas na madrugada. Vale a pena relatar, para que leitores, analistas de sonhos façam suas interpretações.
Sonhei que dormia em lugar desconhecido e um barulho me despertou. Ainda na madorna, identificava alguém a serrar a grade na janela de acesso ao quarto. Tentava despertar, mas estava difícil. O sono era muito forte e, no sonho meus olhos permaneciam teimosamente fechados. Sem forças para reagir, acordei suado sem resolver o conflito.
Anotei para interpretar com a analista em Brasília, liguei a TV e assisti ao noticiário matutino em espanhol antes de novamente adormecer.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CONHECENDO A AMÉRICA LATINA – PERU – PARTE 2 – LIMA

(Plaza Mayor - Lima Peru - Arquivo pessoal)
O segundo dia em Lima, sábado, estava nublado o que aliviava o clima quente e favorecia os passeios. Sem programação com a empresa de turismo, recorri a gerente do hotel que indicou visitar a Plaza Mayor, onde haveria grande show em comemoração ao aniversário de 480 anos da capital peruana. Ela chamou o taxi e falou o valor a desembolsar em Sol  Novos, a moeda corrente no país. Sem pressa e buzinando até para cachorro que atravessasse a rua, o condutor percorreu o trajeto em trinta minutos. Mais tarde descobriria que o motorista peruano se divide em cabeça, rodas e buzina.
A Plaza Mayor é um enorme espaço cultural no centro da capital, que abriga vários prédios centenários e onde acontecem festividades e shows ao ar livre. Quando desci do carro, o grande palco das festividades de aniversário passava pelas últimas preparações. Enquanto aguardávamos, fizemos o turismo padrão visitando a Catedral e o Palácio do Governo e iniciamos a travessia da Jirón (rua) Carabaya, que dá acesso a estação dos Desamparados, onde, no subsolo,  está a biblioteca Mario Vargas Llosa.
Eram treze horas e o almoço se fazia necessário. A procura de um local tranquilo, aconchegante e pitoresco terminou no Bar Cordano que, com um banner de dois metros de altura pendurado em uma das portas, anunciava a data de inauguração: 1905, portanto, comemorava 110 anos. Entramos. O lugar estava lotado. Cadeiras e mesas de madeira e uma arquitetura centenária com inúmeras fotos de celebridades que ali compareceram. Percorri as mesas com olhos a procura de vaga.  Nossa mesa esperava no meio do restaurante, para onde segui rápido. Pedi prato de peixe a vapor, acompanhado com água sem gás e ficamos a observar turistas que conversavam em altos brados. Vários países do mundo estavam ali representados. Éramos os únicos brasileiros.
Da praça, ouvíamos os primeiros acordes a informar o inicio do show. Uma afinada voz de mulher indicou a qualidade do evento e inundou o bar Cordano. Terminamos o almoço e rumamos à praça. A linda cantora, jovem e loira interpretava um repertório nativo e alegre. Por trás, um grupo de seis bailarinas dançava contagiando os assistentes. O número de pessoas que assistiam a cantora ocupava a frente do palco e se espalhava por todos os cantos da praça. A música entrava alegre pelos ouvidos, e comecei a acompanhar o ritmo. Primeiramente, batendo com a palma da mão aberta na perna, mas logo peguei Malu pela mão e saímos a dançar observados pela plateia solidária que abriu espaço para a dança particular. Foram duas horas de dança e suor em sol escaldante, até entender que o solo aquecido queimava a sola do pé, atravessando os tênis. Hora de parar. O descanso foi num café com ar condicionado, afastado da praça.
Após um breve descanso, hora de continuar. O sol baixara e rumamos a Alameda de Cultura Popular de Livreiros. A ACPL, é uma feira formada por infinidade de barracas, semelhante a Feira dos Importados de Brasília, com a diferença que é dedicada exclusivamente a venda de livros usados. Os preços convidativos me fizeram adquirir vários. Terei oportunidade de esmerilhar o espanhol. Da feira saímos a pé para a Praça San Martin, mas desistimos no meio do caminho. O cansaço do dia foi mais forte e parei um taxi para retornar ao hotel. Negociar preço com os taxistas foi orientação seguida a risca. Perguntava na portaria do hotel o custo da corrida e quando chegávamos ao destino, o conhecimento prévio do valor, nos salvou de muitos dissabores.
Após um pequeno descanso, busquei informações sobre janta típica no hotel e recebi a indicação de um restaurante, onde foi possível experimentar delicioso Anticucho, pedaços de coração de rês, assado em carvão, acompanhado de vinho peruano. Em retorno ao hotel, uma saudável caminhada pelas ruas do bairro Miraflores, ajudou a digestão. Era uma hora da manhã e dormir seria bom preparativo para o dia seguinte.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

CONHECENDO A AMÉRICA LATINA — PERU — PARTE 1

Arquivo pessoal
Após rodar por território uruguaio, em janeiro de 2014, conviver com a população e vivenciar histórias, decidi incursionar pelo Peru. Foi bastante familiar visitar o Uruguai pois o intenso turismo brasileiro, próximo aos uruguaios, ajuda-os a entender o português.  Porém no Peru a situação é outra e servirá como teste ao meu curso de espanhol.
A viagem começou quando Malu, minha companheira de viagem e eu fechamos o pacote turístico que incluía aéreo, hotéis, traslados e passeios por sítios arqueológicos. Incluímos tempos livres para conviver com a população o que surpreendeu em situações bem interessantes.
A partida de Brasília foi no dia dezesseis de janeiro de 2015, com escala em Foz do Iguaçu para depois rumar para Lima, capital peruana.
Chegamos a Foz as 14h40 e, como a conexão a Lima sairia as 20h55, decidimos conhecer as Cataratas. Negociei com um taxista e, em quinze minutos, estávamos no pé de uma das Sete Maravilhas do Mundo, as Cataratas do Iguaçu. Tudo que se possa dizer sobre a magnitude já foi dito. O montante espantoso de águas despejadas segundo a segundo formando a nuvem que banha turistas embasbacados é indescritível. Pessoas de todo o mundo, observavam em silêncio o rumor incessante e ensurdecedor. Ouvi que a visão pelo lado brasileiro era mais atrativa que pelo argentino. Após observar o fenômeno por duas horas, consultei o relógio e falei ao motorista que seguisse para a ponte da Amizade, onde permanecemos por meia hora a observar as filas de pedestres com caixas e mais caixas de produtos. De acordo com o taxista, produtos cujas destinações mudam com o horário. Durante o dia, aparelhos elétricos e eletrônicos, a noite, os ilegais.
Iniciar o passeio com a conexão em Foz abriu com louvor o passeio. Retornamos ao aeroporto dentro do horário previsto, lanchamos e tomamos o voo rumo a Lima. Após uma viagem tranquila, aterrissamos as 01h10 horário de Brasília. Em Lima, 22h10. Ajustei o relógio.
O aeroporto de Lima está localizado em distrito distante e, mesmo cansados, ouvimos com atenção a guia descrever o caminho e características   da capital, tudo falado em espanhol, por opção nossa. A jovem apresentava dados estatísticos enquanto a van rodava devagar em trânsito caótico e barulhento. Estávamos com fome e, no hotel, dado o avançado da hora, nos apresentaram a opção de fast food. Perguntei se seria seguro caminhar pela rua naquele horário. A gerente riu e falou que não existe risco. Fomos desconfiados mas voltamos tranquilos, traçando o roteiro para o primeiro dia em Lima.
Para a capital peruana não havia programação com a companhia de turismo e a ida a Cusco seria daí a dois dias. Tínhamos tempo livre a preencher por conta própria. No dia seguinte, levantamos cedo e fomos para a Plaza Mayor. Era sábado e precisávamos aproveitar o comércio aberto. Havia muito a conhecer.