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sábado, 22 de setembro de 2012

O FILHOTE QUE CAIU DO NINHO ANTES DE VOAR

(Google Imagens)

Histórias de desventuras familiares de dependente químico existem inúmeras. Chocantes, podem conter superações incríveis, principalmente quando o adicto assume a doença e conscientiza que só ele pode tratar. Esta, ilustra a problemática e diz respeito ao casal que conheci em viagem a Porto Alegre.
A afinidade com a família aconteceu no aeroporto, enquanto esperávamos o embarque. Iniciou com assunto corriqueiro mas o estado de ansiedade de ambos, gerou a empatia necessária para um diálogo transformador. Acompanhavam o filho para internação em clínica. Os três estavam exauridos pela situação.
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1 – A expulsão de casa

Com apenas 26 anos este rapaz viveu intensa e perigosamente. Foram sumiços de objetos dentro de casa para sustentar o vício, roubos, assaltos simples, depois a mão armada e por fim prisões e ameaças de morte. Piorou quando os pais cansaram das estripulias e o expulsaram de casa. Sentiam-se impotentes perante a adicção e resolveram abrir mão do filho.
A saída de casa foi traumática e, sem compreender nada da vida, o jovem se viu na rua sem teto e comida. Num primeiro momento, odiou os pais.  Anos mais tarde, amou-os pela atitude corajosa.
– Só compreendi a gravidade da situação e o problema que causava a família, ao ser colocado para fora de casa – fala pausada, parecia dopado por forte medicação. As palavras saíam devagar, forçadas e vez por outra desconexas. – Doeu-me sair de casa moço, não desejo isso a ninguém.
Minha posição no avião facilitava ouvir pai e filho. Sentara no corredor por comodidade de acesso ao banheiro. Ao meu lado direito o pai, na janela a mãe, olhando a pista que se distanciava. Do lado esquerdo, após o corredor, o rapaz, pouco mais que um menino. As mãos queimadas pelo vício. Ficamos em silêncio enquanto o comandante prestava informações sobre o vôo que já iniciara a plena altura. Logo agradeceu, desligou o microfone e voltamos a falar. Comentei sobre as dificuldades da vida e o jovem  entendeu a senha para continuar o relato.
– Quando meu pai me expulsou, estava ameaçado de morte pelos traficantes e naquela noite recebi cobrança dura. Enquanto caminhava sem rumo pela rua, uma moto cortou a frente. Duas figuras desceram. Reconheci e, antes que encostassem em mim, falei precisar de tempo. Um deles fez a volta e veio por trás e recebi violento golpe na nuca. Desabei sem forças, mas  consciente.
Interessei-me pelo relato e virei o corpo para ficar de frente ao perceber que certas coisas um estranho ouve melhor. O pai aguçou o ouvido, demonstrando desconhecer a parte da história. Percebi no tom de voz, nos olhos úmidos e na fala mansa, palavras vindas do coração, de uma profundidade doída de quem padecera na carne.



2 – A vida ensina

– Após este primeiro golpe, lembro apenas que caí e um chute no rosto brotou o gosto de sangue na boca. Acho que desmaiei. Perdi a noção do tempo que fiquei desacordado. – Encurvado, relembrava os fatos pela primeira vez e percebi a inocência de menino. Ofereci o lenço de papel que carrego. Aceitou e assuou o nariz com estardalhaço. A senhora ao lado, encolheu-se. Ao viver as ruas, adquirira hábitos do meio. Continuou.
– Acordei na esquina da rua que depois soube ser de cidade satélite. Em frente ao nariz um coturno e quando olhei para cima, vi o vulto fardado. Polícia. Eram três. Levei um chute no estômago e foi só. Deixaram-me. Não merecia atenção. Acompanhei-os com os olhos e, com dificuldade levantei cambaleando. Estava fraco do espancamento do dia anterior. Sentia-me um caco de madeira triturada e lembrei da minha cama. Caí no chão e dormi de novo. Acordei a noite, moído e ensanguentado. A vontade de usar a droga me assolava e ao ver um menino com tênis, ameacei-o e roubei. Corri para a boca e troquei pela primeira pedra de crack do dia. Depois juntei a três desconhecidos e roubamos a bolsa de uma mulher. Compramos dez pedras com o dinheiro e dividimos. Dormi dopado esta noite e ao acordar, o sol alto e o calor mormacento me incomodaram. Senti fome. Lembrei do café da manhã de mãe. O corpo era uma dor só. Não dava para saber onde doía mais. Consegui levantar e comecei a busca por comida. Ao dobrar uma rua, avistei o cartaz de supermercado. Apressei o passo até a lixeira, onde vi um pacote de papel. Sem parar, peguei-o e abri caminhando em direção a sombra do estacionamento, escondendo dos seguranças. Sentei ao lado de um rato que olhava desconfiado. Era um sanduíche e, ali mesmo comi, não como mendigo, mas como aprendera, mastigando vagarosamente, com a boca fechada. Senti o gosto da carne, do catchup, da maionese e do pão. Alguém o descartara quase inteiro. – Interrompeu a narrativa buscando minha cumplicidade e complementou – O senhor se surpreenderia ao ver o desperdício que o povo descarta. Graças a Deus, pois assim o pessoal de rua tem o que comer.
Conversar em avião tem inconveniente, fica-se com o pescoço torcido. Olhei para o outro lado, onde estavam os pais. A mãe solitária e distante, estava alienada pelo barulho dos motores, mesmo se ouvisse o rapaz, não choraria. As lágrimas secaram. O pai, mais perto, se emocionava. Coloquei a mão sobre seu ombro e ele baixou a cabeça.
Retornei atenção ao jovem, que continuou.
– A fome continuava e voltei às lixeiras, onde fui premiado por quatro bananas e um yogurte pela metade. Agora estava alimentado e saudável. Ou quase. Novas investidas da droga assolavam. Levantei e caminhei as seis horas seguintes até o anoitecer, sem rumo. Parava em algum muro, deitava e dormia e o tempo passava. Juntei-me a um grupo que seguia para boca de fumo. A cabeça só pensava no consumo e, quando percebi chegamos. Era no local de onde tinha o débito. Tentei voltar, mas era tarde. Uns quatro me cercaram e, diante de minha negativa em pagá-los, começaram a bater. No início até sentia dores das pancadas, mas logo o corpo adormeceu e a voz deles ficou distante e perdi os sentidos. – Sua fragilidade pode ser comparada ao filhote de pássaro que cai do ninho antes de aprender a voar.


3 – A redenção

O jovem olhou o pai e pediu que continuasse o relato. Antes de começar, o homem secou a coriza que teimava em pingar da ponta do nariz. Depois iniciou uma fala difícil, muito baixa.
– Eram seis horas da manhã quando recebi o telefonema do hospital avisando que nosso filho fora encontrado sangrando na rua. Minha mulher e eu atendemos ao chamado imediatamente e saímos sem café. Naquela manhã chovia muito, mas mesmo assim, fizemos o trajeto do Plano a Samambaia em quinze minutos. Quantas vezes ainda teríamos que aguentar isto? – A voz do pai era gutural e rouca e percebi que a mãe ouvia e as lágrimas ainda existiam. Baixou a cabeça e secou-as num lencinho rosa. Quando se recuperou, continuou a narrativa.
– Quando chegamos ao hospital, o médico recebeu de pé. Disse que achou o número do telefone colado na carteira de identidade e que agora o menino estava em coma induzido. O maxilar estava quebrado, assim como um braço, a perna esquerda e, o mais grave, quatro coágulos no cérebro estavam drenando. A situação era grave e impossível de precisar o que vinha pela frente. Foram 45 dias de dor com visitas diárias a UTI e nosso garotinho entre a vida e a morte. Após este tempo, saiu do coma e passou por várias cirurgias. No dia que recebeu alta, pediu ajuda e declarou querer uma clínica de recuperação.
Ficamos todos em silêncio e percebi naquela família destroçada o quanto um elemento pode afetar a harmonia e a paz. O problema deles está longe do fim. Os pais precisam ter consciência de sua impotência e que o filho deve ser o responsável pelo tratamento. O adicto deve promover seu cuidado, pois são os melhores cuidadores de si mesmos.
Após a pausa, a mãe se sentiu fortalecida a continuar.
– Nosso filho parecia um indigente no hospital. O pé inchado e cascudo. O senhor não imagina. – fiz sinal que sim, que podia imaginar e ela continuou em tom de confidência. – Ao ver meu menino na UTI, lembrei quando o acalentava a chorar no bercinho. Muitas noites acordei para verificar se respirava, chegava a colocar um espelho na frente do nariz. – a dor da mãe contaminava, fez um silêncio breve absorvida em recordações e continuou – sempre foi um menino fraco, de peso aquém da idade. Tivemos que tratá-lo diferente dos outros.
O comandante avisou para apertarmos os cintos, pois o vôo chegara em Porto Alegre. Um a um suspiramos.
O avião aterrissou com forte impacto na pista. Quando estacionou, nos despedimos dentro da aeronave. Perguntei ao pai se poderia publicar a história sem identificar as pessoas e recebi um sinal que sim com cabeça e complementou que poderia ser útil aos leitores.
No saguão, acenamos. Como estava com bagagem de mão dirigi-me a porta principal do aeroporto Salgado Filho que, quando abriu deixou entrar um vento gelado.
Puxei o casaco da maleta. Três graus na capital gaúcha.

sábado, 15 de setembro de 2012

PORTO ALEGRE É DEMAIS

(Google Imagens)

Frequentemente viajo a Porto Alegre e por isso identifico dois tipos de habitantes, quando o tema é a violência. Há os que vivem presos dentro de casa, intimidados com notícias geradas pela televisão, jornais e revistas. Deslocam-se ao trabalho e voltam correndo a casa onde se aferrolham por trás de trancas, cercas elétricas e, alguns moradores de condomínio, se entregam a vigilância armada, espreitando pelas frestas o mundo lá fora. Os outros são os que mesmo sabendo de tudo, ignoram, acreditando que nada lhes acontecerá, desde que sigam o exemplo dos escoteiros e fiquem “sempre alerta”. Com certo cuidado, seguem a vida normal. Pertenço ao segundo time. Quando chego à cidade, procuro despir-me dos medos, porque entregar-me é ficar preso dentro de casa, acreditando em uma  realidade assustadora formatada pelos meios de comunicação. Transito pelas ruas, de ônibus como nos velhos tempos que morava na cidade ou de carro, procurando locais para diversão. Durante o dia, a pé, miro a bela paisagem do Guaíba onde nos  tempos de adolescente nadava e pescava lambaris que vó fritava para o almoço.
Hospedo na casa de mãe na zona sul e por lá mesmo percebo a multiplicação dos enclausurados. As cercas elétricas emendam umas as outras e chego a conclusão que vivo em uma situação irreal, baseada nos anos que por lá era tranquilo de viver. Às vezes tenho a sensação que pouco conheço sobre a realidade de Porto Alegre.
Muitos moradores de hoje não conheceram a zona sul quando totalmente aberta aos moradores, e com vizinhos tomando mate e conversando sentados nas calçadas. São pessoas que economizaram muito para aquisição de suas casas e acabaram escravizadas dentro delas. Só saem para outra clausura, a dos shoppings. E assim entram no círculo vicioso de trabalhar para consumir. Neurose que está levando os moradores a desconhecerem quem mora ao lado. Porque lugar para consumir em Porto Alegre é o que mais tem. Sem contar os pequenos, são cerca de dez shoppings entre médio e grande porte.  Conto por baixo, pois alguns nem conheço. Nos bairros, pequenos shoppings com seguranças e estacionamento para o conforto dos frequentadores, mas também ali, impera a sensação da clausura.
Leio um artigo no jornal local que Porto Alegre foi roubada dos Porto-alegrenses. Pura verdade. A capital está reclusa. Além do laser, as compras se restringem aos shoppings. Quem hoje vai ao centro comprar uma camisa, calça, sapatos ou aparelhos eletro/eletrônicos? Nem sei como sobrevivem estas lojas.
Em Brasília, vivo acostumado a frequentar shopping. Desde que decidi morar na capital federal, em 1974, é o único local que a maioria do brasiliense conhece para comprar. Só me dirijo ao comércio de entre quadras para adquirir pregos, parafusos ou achar um sapateiro. De resto, frequento os mega comércios, pois Brasília assim foi construída, para os habitantes não terem o trabalho de caminhar para consumir. Aliás, foi na capital federal que conheci shopping, como também acostumei a locomover apenas de carro tal o descaso com transporte coletivo, pois a capital federal foi propositalmente concebida para o automóvel. O que não entendo é como Porto Alegre, que possui bom sistema de transporte, seja surrupiada dos habitantes pela bandidagem.
Escrevo sobre isto para deixar claro que nego enclausurar em Porto Alegre. Só vou a shopping quando é preciso e para levar mãe para passeio seguro, banheiros limpos, alimentação diversificada, possibilidades de compras sem atropelos e onde inexistem degraus de calçadas para tropeçar.
Ao contrário, prefiro passeios por Ipanema para vigiar o por do sol que continua lindo e exercitar na Avenida Diário de Notícias. À noite, frequento os barzinhos ou vou a algum clube de dança, que por lá existem muitos. Prefiro curtir a sensação de segurança, talvez pelo tempo afastado da capital gaúcha o que provoca falsa imunidade que pretendo cultivar. Afinal, tenho meus direitos de ir e vir na capital gaúcha.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O MUNDO DÁ VOLTAS, BACELAR

(Google Imagens)

Após dois dias em coma, Bacelar acorda e, ao tentar mexer pernas,  braços ou simplesmente os dedos dos pés, percebe completa inanição. A única sensação de estar vivo foi o zoar do aparelho de monitoramento cardíaco. Guardava na lembrança a fisgada no lado esquerdo do rosto, a forte dor de cabeça e o repuxar teimoso do lado direito que o fez cruzar sinal de trânsito vermelho com o pé no acelerador. As fortes luzes do teto queimavam os olhos e neste cenário, todo branco, com odor de éter, onde o tempo deixava de ter importância, ouviu a voz familiar de Graça sua filha, que o alegrou e a seguir a do genro que o entristeceu. Percebeu-os aos pés da cama em conversa sussurrada.
O que ouve com o bode velho teimoso? – falou Gerson a mulher.
Parece que brigou com um diretor e acabou sofrendo um AVC de grau cinco, o mais grave segundo o médico. Mas pelo amor de Deus, pára de chamar meu pai assim – disse a filha, abatida e desanimada. – afinal, tudo que temos é graças a seu trabalho duro. Mamãe demorou a avisar achando que era coisa passageira.
O paciente ouvia tudo na solidão e imobilidade da doença e pensava o quanto aquele idiota do genro tivera parcela de participação.
Desde o início do namoro, dizia à mulher querer um homem melhor para a filha. Antes da chegada do “intruso”, como se referia, a família era unida e os planos seguiam de vento em popa. A fábrica estava na melhor fase e programava a exportação de produtos a China. A coisa desandou quando a filha única conheceu Gerson e quatro meses depois engravidou, garantindo assim prevalecer seu desejo de se casar com o rapaz. Em seis meses casaram em uma cerimônia aquém da programada.  Todo o movimento contrário ao casamento esmorecera frente ao amor entre os jovens. Amor capaz de  remover obstáculos e dobrar o pai furioso. Na época do casamento, a mulher o convenceu a patrocinar uma grande festa, que foi desprezada pelo genro soberbo e o enlace aconteceu na igreja perto dos pais do noivo e a festa no salão paroquial, embalada por música de pagodeiros, regada a cerveja e doces encomendados no supermercado. Bacelar então montou casa para os jovens, que foi abandonada e o casal passou a residir em casa vizinha aos pais do marido.
Gerson era rapaz de hábitos simples e até o casamento, morava em casa de dois cômodos com os pais na Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Mal terminara o segundo grau, a filha do empresário, administradora de empresa, fora preparada para gerenciar os negócios. O pai não contava é com Graça fisgada pelo coração sonhador e simples do rapaz. Bacelar tinha certeza que fora a busca da filha por alguém parecido com ele, também de origem humilde o que influenciou na escolha.
Na única vez que foi visitar a filha, Bacelar não economizou palavras para exprimir a precariedade da moradia e tanto humilhou como desafiou o genro a dar o mesmo conforto que Graça tinha antes do casamento. Desta única vez que os visitou, floresceu a dor de cabeça do pai que nunca mais o deixou. O desgosto tomou conta da mansão do empresário que permanecia quieto e solitário em casa, pouco falando com a mulher.  
As tentativas de reaproximação entre os dois, feitas por Graça, para que o rapaz trabalhasse na fábrica, eram rechaçadas pelo pai que afirmava categórico:

Um dia, minha filha, você irá voltar para casa sem “o intruso” e terá novamente as roupas de grife que você adora usar. Hoje você veste somente roupas de feirão. Este idiota não tem condições de assumir a empresa.
Bacelar, imerso forçadamente em pensamentos era observado pelo neto que olhava o avô como a um fantasma. Dor não tinha. Notou a visão turva mas os ouvidos estavam atentos e assim escutou a mulher  cumprimentar a todos e a ele, dirigir apenas um comentário maldoso, feito por não saber que o marido a tudo escutava.
– Ta vendo no que dá querer mandar em todo mundo? Agora, todos mandam em você.
Filha, agora você pode pensar em voltar para casa, o médico falou que não há prazo para recuperação. O caso é grave e acredita em recuperação gradativa e muito lenta.
A mulher fez uma pausa para se certificar que foi entendida e continuou em tom grave.
– Agora a fábrica é sua e de Gerson e o melhor é assumir imediatamente para manter a continuidade. Falei com o contador, que amanhã reunirá a diretoria com o advogado para assumirem a gerência legalmente. Seu pai após a alta será instalado no quartinho da Clotilde no andar térreo lá de casa, onde ficará confortável.
Bacelar ouvia atentamente, impedido de qualquer reação. Apenas a mente trabalhava. A mulher saiu da sala e deixou o casal a conversar na frente do enfermo.
– Por mim, colocava o velho numa casa de saúde, afinal está um vegetal mesmo! – o rapaz destilava veneno recebido do sogro ao longo dos anos e fazia questão de demonstrar. Mesmo se soubesse que o sogro a tudo ouvia, era bem capaz de falar assim mesmo.
– Pára com isto, querido, papai sempre quis nosso conforto. Fazia tudo para mim e você usufruiu muito disto – a filha era grata ao pai.
Na verdade Gerson lembrava apenas que o sogro o humilhava a mesa nos almoços de domingos e nas reuniões familiares o classificava de formas negativas.
– Pois saiba que há tempos tomei ciência do andamento das finanças, querida. Não andam nada boas e expandir para a China é péssimo negócio, assim mandei abortar os planos. Temos que focar no Distrito Federal. Teremos que reduzir a empresa a dez por cento do que é hoje, para se manter no mercado.
Na cama, prostrado, Bacelar percebeu que nada podia fazer. Dependia de decisões de outros e concluiu que a empresa, sua propriedade e que proporcionara tanto prazer e conforto e até mesmo a filha que criou e educou nas melhores escolas, não mais lhe pertenciam. 
Fechou os olhos e passou a viver de fantasia.