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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caminho Seguro - A vida do escritor Lourival Lopes


(Obras do escritor)











São quatorze livros escritos que já venderam quase três milhões de exemplares. O autor, o paranaense Lourival Lopes, tem 74 anos, é sorridente, amável e está sempre pronto a ajudar o próximo. Não se preocupa em ser best-seller, nem promove noites de autógrafos. Mas bem que poderia, afinal, com este número de livros vendidos, não deixa nada a desejar frente a muitos acadêmicos.
“Distribuir amor” é o lema de quem se dedica a obras filantrópicas e trabalhos voluntários. “Mas preste atenção que só ama o próximo, quem sabe amar a si mesmo”. Lourival gosta de citar fatos, contar casos e ensinar com exemplos.
“Faço tudo com amor e da melhor forma possível, assim meu risco de errar é menor”.
E a inspiração para escrever de onde vem? “Leio muito. Jornais, revistas, ouço rádio, acompanho as notícias da televisão”.
Quem fala com Lopes é cativado pelas palavras de conforto e de esperança.
O primeiro livro, Amor em Ação, editado em 1982, logo se tornou um sucesso de vendas. “Nem esperava a repercussão que teve”. Lourival é modesto.
Os livros são pequenos, cabem na palma da mão e têm em média duzentas e cinqüenta páginas cada. Medem 11 centímetros de altura e de largura, 7,5 centímetros. Têm como conteúdo mensagens pequenas e rápidas, que ocupam uma página e “têm o objetivo de tocar o coração, a mente e mudar o modo de encarar a vida de quem os lê”.



A Formação

Nasceu em Borrazópolis, Paraná, em 1937. Da mãe, dona Joana, paulista, herdou o temperamento calmo, observador, contemplativo e a concentração. Do pai, o paranaense Zacarias, a impetuosidade, o arrojo e a persistência para vencer os obstáculos da vida.
De pequeno, conta algo que sempre lembra e marcou para ele o temperamento dos pais. O pai tentava colocar os arreios num cavalo e a mãe observava-o pela janela da casa. Num determinado momento, ao arrochar a barrigueira no peito do animal, o apetrecho soltou-se e o pai levou um grande tombo. A mãe preferiu se retirar para rir dentro de casa, pois não queria o marido a assistí-la rindo dele. Lourival exalta o fato como forma de respeito que havia entre eles.
Todos tiveram na juventude uma figura especial, que influenciou e transmitiu afeto e sabedoria. Alguém que mostrou dimensões mais profundas e ajudou a escolher caminhos com liberdade. Para o escritor Lourival Lopes, foi o avô paterno, José Martins da Silva. José era mineiro nascido em Cambuí, que, após breve parada em Rio Vermelho, São Paulo, firmou residência em Borrazópolis, arrabalde de Arapoti no Paraná. José era iletrado, nunca leu um livro. Apesar disso, por ser médium espírita, receitava remédios oralmente para uma vasta população que o procurava. Lourival foi profundo observador do avô que, mesmo sem saber ler, tinha ampla cultura geral atribuída a seu mundo espiritual. “A casa de meu avô vivia cheia de gente, apesar de não possuir estradas de acesso”. Dissertava sobre Nero e suas matanças durante o Império Romano com toda propriedade, sem nunca ter conhecido o assunto. “Meu avô sabia que Nero matou a própria esposa, veja só”. Dedicava-se a “aliviar a aflição das pessoas tomadas pelos maus espíritos, fazendo uma espécie de exorcismo”. Por isso era combatido por médicos e padres que não se conformavam com suas atividades mediúnicas.
Lourival herdou do avô o espírito caridoso para com o próximo. Nunca deixou alguém que o procurou sem auxílio, seja ele um amigo ou mesmo desconhecidos. Quando alguém solicita algo, corre para resolver. Lopes possui imóveis, mas nem pensa em alugá-los para melhorar a renda. “Empresto para servir de moradia a alguém que precise”. Sorridente, não se preocupa em obter lucro a qualquer custo. “Os imóveis que tenho formaram meu patrimônio sem precisar desembolsar recursos, porque então lucrar com eles?
Quando menino, não gostava de ler, apenas brincava muito, mesmo sem salientar-se nas brincadeiras. Seu irmão único, o Oliveira, esse sim era bom nas traquinagens. Enquanto ganhava bolinhas de gude nos jogos, Lourival perdia todas ao se aventurar a jogar.
No inicio da adolescência, Lourival desandou a ler. O pai comentava que ele gostava de corrigir o português das pessoas, ensinando-as a falar direito.
Cursou o ginásio em regime interno. Era o Colégio Cristo Rei, em Jacarezinho, escola tradicional pertencente a padres alemães. A disciplina era rígida e ele até pensou em seguir a carreira pastoral. Mais tarde, ao conhecer dona Vera, sua futura esposa, desistiu definitivamente da idéia.

As Crenças

Lourival Lopes acredita que a morte não é o fim de tudo. É uma passagem para outra dimensão. “A pessoa paga suas maldades numa outra esfera da existência. Mas não pense que fica por isso mesmo, muito pelo contrário, o ajuste de contas inicia aqui”.
Para ele, existem seres bem mais inteligentes que nós em outros lugares do universo. Vivem num plano praticamente mental.
“Na vida, quem vive desligado da materialidade, vive melhor”. Filosofa que as pessoas estão calcando as vidas numa felicidade futura e incerta. Lourival ensina que isto é uma insanidade que está se propagando indiscriminadamente. “Vivendo no futuro, esquecem de viver o presente.”
A vida deste paranaense é pregar o bem não somente nos livros, mas também em atos diários e criações.
Em fins dos anos setenta, em Brasília, ajudou a criar o CVV - Centro de Valorização da Vida. Entidade nacional, sem fins lucrativos, destinada a prestar auxílio às pessoas com dificuldades para tocar a vida.
Em 1980, criou o seu próprio serviço voluntário, com a finalidade semelhante ao CVV, acrescentando a filosofia de que o plantonista deveria não somente ouvir, mas dialogar abertamente com quem consulta o serviço. Chamou-o de CEO – Central de Paz e Otimismo.
Com relação ao filho mais velho, Lourival tem uma história mediúnica para contar, o que o fez entender o porquê da escolha do nome dele. “Certa vez, ao levar um amigo num Centro Espírita, o médium acercou-se de mim e disse que numa outra dimensão da vida, eu fora um padre católico, que prestara meus serviços em Angola. Meu nome seria Augusto e, por várias ocasiões, questionara a doutrina Cristã. O médium explicou que a razão de escrever livros de mensagens, era para me redimir desta insubordinação.” A alusão aos livros, foi feita pelo médium sem ele conhecer Lourival e nunca ter ouvido falar de sua obra. Anos antes, na época do nascimento do filho mais velho, dona Vera lhe perguntara que nome dar ao filho. Ele declinou de escolher. “Vera, para você que o carregou nove meses é muito mais sensato escolher o nome”. Dona Vera ainda insistiu, “vou colocar Eduardo, mas e você? Como o chamaria?” Lourival sem pensar, respondeu de pronto, como se a resposta estivesse fabricada na mente: “Augusto”. O nome do filho mais velho é Eduardo Augusto. Mesmo nome do padre em Angola.

Os Ambientes que Freqüenta

Numa sala de um edifício no Setor Comercial Sul de Brasília, funciona a CEO – Central de Paz e Otimismo, entidade por ele criada. Reformada, conta com ante-sala destinada a dois plantonistas e pequena biblioteca com livros de Chico Xavier, Divaldo Franco e outros espíritas. Na sala principal, mais uma mesa de plantonista. Um aparelho telefônico, um recipiente de madeira contendo os 14 livrinhos do Lourival, uma caneta e um bloco de papel para anotações completam os apetrechos. Há ainda em um canto deste segundo ambiente, uma mesa de reuniões, quatro cadeiras e um arquivo de aço. As paredes pintadas de azul transmitem tranqüilidade ao local. O outro ambiente é composto de cozinha e banheiro onde são guardadas outras vinte cadeiras, empilhadas, que servem para acomodar os plantonistas nas confraternizações.
São dezesseis horas de uma tarde de muito calor. O telefone toca e um voluntário da entidade atende. Era alguém que necessitava abrir o coração. O atendente inicia um diálogo em voz baixa. Após, pega um livrinho e lê uma mensagem para a pessoa do outro lado da linha.


Dê rumo a vida.
Prometa dar a si mesmo a felicidade e melhor aproveitar as suas qualidades e pendores.
Diga a si mesmo, confiante:
“Tenho fortes possibilidades de me por em caminhos novos. De eliminar uma montanha de indecisões, de me fazer mais capaz de encontrar o lugar certo para meus pés e a altura correta para meus braços.”
Trabalhe consigo mesmo. Ponha a “mão na massa”. Acenda as suas luzes.
As capacidades reconhecidas dão impulso à vida (CAMINHO SEGURO – ACENDER LUZES. pág. 128 – Lourival Lopes).
Com vistas a ampliar os serviços da CEO, Lourival montou um site na internet ( http://www.otimismo.org.br/ ) O conteúdo são mensagens escritas e gravadas de seus livros. É numa rádio de Brasília, com mais dois plantonistas que grava as mensagens dos livros para serem divulgadas gratuitamente.
O tom é bondoso, doce até. Lourival empresta emoção ao que lê. O ritmo cresce e a voz ocupa o ambiente do estúdio de gravação.

O coração está doendo?
Ninguém escapa dos momentos de dor.
Mas para não entrar em revolta ou desespero, use os perdões pequenos ou grandes, conforme exijam os momentos, e tenha delicadeza com todas as pessoas.
Creia que há forças no seu coração.
Mesmo que o momento seja uma pesada cruz, convença-se que ele passará, como uma ferida que se fecha. Pense no bem que a vida lhe dá, nas coisas boas que lhe aparecem e jamais se entregue ao desânimo.
Há beneficio também na dor.
É nos momentos de dor que você descobre a força que tem. (CAMINHO SEGURO – PERDÃO NA DOR. pág. 40 – Lourival Lopes).
Possui dois prédios no Setor Gráfico de Brasília, sendo uma gráfica e uma editora montadas para confeccionar seus livros. “Não viso lucro, não sou um capitalista, meus livros são para ajudar as pessoas.”
Lourival tem cinco filhos. Na gráfica trabalham dois deles e duas netas. A sala onde atende é de mobília simples. Sua mesa é antiga, bem usada. De fronte à escrivaninha, há uma poltrona de vime e uma cadeira tipo “do papai”. Logo na entrada da sala, uma mesa de reuniões estilo de jantar com oito cadeiras. O ambiente lembra o de uma casa de família, o que caracteriza o estilo de vida deste homem que não usa roupa da moda. Veste calça e camisa social de mangas curtas. Sapatos pretos completam o aspecto sóbrio, mas jovial.
“Nas segundas, em torno de nove horas, meus filhos e eu fazemos uma prece para que tenhamos a semana plena de harmonia e paz”. Nas orações, Lourival fala diretamente com Deus. Agradece, pede, clama, pergunta, fala, dialoga. Termina com um sorriso. “Somos bons amigos, Ele tem me ajudado muito, aliás, sempre me ajudou, dá-me mais do que mereço.”


O Escritor e a Família

Além de ensinar os caminhos do bem por meio dos livros que escreve, Lourival pratica os ensinamentos em casa com os filhos e netos.
Certa vez, o filho mais novo, ainda menino, achou dinheiro na rua. Quando chegou à casa e contou ao pai, este o fez mostrar o local onde o encontrara e depositou a nota no mesmo lugar, “o dinheiro não lhe pertence, então vamos devolver, não é bom ficar com o que é dos outros”. E o menino colocou a nota no mesmo lugar onde encontrara, na calçada.
Um fato marcou a vida deste homem e colocou a prova toda sua fé e crença, solidificando mais ainda suas convicções. O filho mais velho, quando beirava os 20 anos, sofreu um violento acidente de carro que exigiu um longo período de recuperação. Lourival orou e pediu pelo filho que, vagarosamente, retornou a caminhar, com o uso de muletas. Neste período, reforçou as crenças no Ser Superior e reorientou sua vida para auxiliar pessoas que precisam de conforto frente a acontecimentos trágicos.

Não tema surpresas desagradáveis.
Você deve ter cautela para não desagradar a alguém, deve ter cuidado ao dirigir o carro, ao trabalhar, ao escolher companhias, ao andar em lugares inseguros.
Isso é certo; mas, maior atenção você deve ter para consigo mesmo, para com os pensamentos e emoções. Fortaleça-se interiormente e não deixe que nada, mas nada mesmo possa ser motivo de abalo.
Fortalecido por dentro, nada de mal o sacode, pois, onde há fortaleza, há garantia de paz.
Para quem está preparado, não existem surpresas desagradáveis. (SABEDORIA TODO DIA – MENSAGEM 79. pág. 93 – Lourival Lopes).
Para os filhos, sempre passou a palavra da resignação ao Ser Superior e a crença de que lá na frente as coisas entrarão nos eixos.
Lourival segue a doutrina espírita e a esposa, é católica. A diferença os une ainda mais, ela pratica catolicismo, freqüenta a missa todo domingo e ele o espiritismo. Já comemoraram as bodas de ouro. Apesar das núpcias terem acontecido em Borrazópolis, a festa aconteceu entre seus filhos e netos nascidos na capital que os acolheu, Brasília.
Recarrega as baterias em Caldas Novas, Goiás, onde mantém duas casas simples conjugadas, com mobília modesta. Muitas camas e colchões demonstram que recebe muitas visitas, “não somente de familiares, mas também de amigos que me procuram”. Brasília representa uma carga muito grande de trabalho para este homem que já passou dos 70 anos. “Aqui (refere-se a Caldas Novas) recupero minhas energias e esfrio a cabeça do stress”.
Nesta casa, Lourival fica a vontade, de bermudas ri muito, se emociona quando fala da vida e recebe num determinado dia, dezoito pessoas. Adora receber e conviver com a família. Quanto mais gente o visita, mais feliz fica. O irmão, Oliveira, participa da conversa, com sorrisos e alguns comentários sobre a infância dos dois em Borrazópolis.

A Obra e o Processo Criativo

Os livros de Lourival Lopes não tratam do mundo espírita, mesmo sendo ser praticante da doutrina. São destinados a promover o crescimento do mundo interior das pessoas, valorizando as situações do cotidiano. Defende que os sofrimentos são “parte de um crescimento pessoal para alcançar a paz e a harmonia com a vida e as pessoas.”

Confie em si mesmo.
Tudo é melhor quando você confia na sua inteligência, no seu sentimento, no seu poder de reconciliação.
Uma divergência grande apequena-se ou desaparece. As amizades crescem, um simples encontro tem significado e as palavras ganham importância. O que era problema até serve de ajuda.
Não espere os grandes enfrentamentos, as adversidades para confiar em si. Exercite a confiança a toda hora. Assim, se surgir uma grande dificuldade, você já estará preparado. A confiança em si mesmo é força poderosa de paz, de progresso e felicidade. (SABEDORIA TODO DIA – MENSAGEM 204. pág. 218 - Lourival Lopes).
“Para escrever, não tem hora. Mas prefiro pela manhã. Local para mim não é importante, basta papel e lápis”. Lourival não escreve no computador, prefere instrumentos que melhor se adéquam aos recursos de sua geração.
“Escrevo até em estacionamento, enquanto espero alguém que se atrasa. Os momentos da vida devem ser aproveitados ocupados por coisas boas.”
Em frente a gráfica de sua propriedade, há uma enorme mangueira, antiga e frondosa, sob cuja sombra, Lourival montou muitas mensagens de paz e otimismo.
Mas qual é o público que lê seus livros? Para quem escreve este escritor, que, anualmente, é cobrado pelos leitores para escrever novas obras? Esta pergunta, feita no momento que abria a porta de saída da CEO, o deixa sério. Fecha-a novamente e suspira. Abre um sorriso, “meus livrinhos são destinados às pessoas que estão acima da linha do horizonte”.
E explica. “Certa vez, enquanto caminhava fazendo um exercício no final de tarde pela superquadra onde moro em Brasília, conversando com o guia espiritual, lhe fiz esta mesma pergunta”. O dia estava findando e o horizonte dividia-se em dois. Abaixo desta linha, aparecia o negrume já escuro da noite caindo e, acima, ainda permanecia o colorido lindo, amarelo, avermelhado de um belo crepúsculo. Lourival caminhava só, meditativo. Uma voz lhe sussurrou “teu público está acima daquela linha do horizonte”.
“Acima da linha do horizonte estão as pessoas que tudo sabem e têm como meta a melhoria da vida pessoal. Não no sentido financeiro, pois não seria melhoria nenhuma, mas sim pelo lado vivacional e emocional”.
“A busca da felicidade e da esperança não passa pela aquisição de bens, pela posse de dinheiro e sim na sabedoria de amar o próximo e distribuir este amor.”
Considera 26 de novembro de 2007 a segunda data de seu nascimento. Eram quatro horas da tarde, quando ele saía de sua gráfica no Núcleo Bandeirante e rumava ao escritório da Central de Paz e Otimismo, no Setor Comercial Sul, para cumprir mais uma missão. No caminho, violenta chuva caía e turvava o caminho, obrigando-o a ir bem devagar. Repentinamente, sem tempo de fazer nada, avistou um caminhão na beira da estrada, parado embaixo de um viaduto. Lourival pisou no freio, tentou desviar, tudo em vão. O carro escorregou e bateu violentamente com o lado do passageiro. “A sensação de morte me veio num instante, junto com o ruído das ferragens se amassando e contorcendo pensei: ”vou morrer””. O carro perdeu a forma original e adquiriu o formato da carroceria do caminhão. Perda total. A Polícia Rodoviária chegou logo e tentou entender como aquele senhor, saíra ileso de um acidente tão feio.
“Quando não está na sua hora, o destino conspira a seu favor”.
Mas de onde vem este sucesso de vendas?
“O mundo precisa de palavras de otimismo, de esperança.” Lourival fica sério quando fala da atualidade, da humanidade. Percebe que o ser humano passa por momentos difíceis. “As pessoas sofrem por motivos fúteis que elas mesmas criam”. A massificação e o culto a beleza física, ao sucesso e aos bens materiais atrapalha o ser humano moderno.
O público que “está acima do horizonte”, quer ler algo que lhe dê esperança. Num mundo que se despedaça em insanidades, descrenças, violências, desvios de conduta, desesperanças, há um público ávido a se agarrar em algo que chame à razão, talvez a fé. O que ainda existe nas lembranças do comportamento de pais e avós, há muito esquecido. Quer se apegar a valores que, mesmo não sendo palpáveis, sabe que lhe farão bem e acenarão para novos horizontes. Os livros de Lourival Lopes podem representar a luz de um Caminho Seguro de esperança e paz interior.






(Obras do Escritor)






















































sexta-feira, 20 de maio de 2011

A FESTA DE BARÃO DO TRIUNFO

(foto: Marco)


Armandinho (85); Eloá(81); Lourdes (82)


Os mais experientes da familia Tassinari, presentes a festa.


Ao contemplar o modesto clube do Barão do Triunfo, onde se realizaria a 10ª Festa da família Tassinari, pensei que por mais difícil a programação, o evento deve sempre acontecer. Com qualquer número de presentes. As gerações que estão crescendo merecem conhecer a cidade, os parentes e a história de origem. Até suas vidas. Muitas vezes temos impulsos desbravadores e desconhecemos o temperamento. Apreciar a história da família ajuda a se conhecer melhor. Os imigrantes italianos iniciaram a conquista do solo através do trabalho duro, num desapego indescritível das coisas na terra natal. Muitos de nós, fizemos isto também. E as gerações mais modernas o fazem. Resolvi escrever este texto pensando nisto. Quem sabe em 2012, as novas gerações comecem a entender que conhecer os antepassados, é uma forma de se conhecer.
A Décima Festa da família Tassinari aconteceu no dia 15 de maio de 2011. Conforme foi votado no ano anterior, os familiares se reuniram no Município de Barão do Triunfo, há 100 quilômetros de Porto Alegre, terra onde houve a saga dos familiares que iniciaram a conquista das terras gaúchas. Este ano, a frequência do pessoal foi baixa. Na primeira festa acontecida no ano de 2001, os participantes chegaram há mais de 400. Desta vez, o evento reuniu cerca de 54 pessoas. Mas há explicações para isto. O primeiro foi a chuva que na véspera se abateu sobre a capital gaúcha, onde moram a maioria dos familiares, fazendo-os temer pelo acesso a cidade. E realmente enlameou muito e para quem vinha de Arroio dos Ratos, o lamaçal era um entrave na estrada de mais de 50 quilômetros de terra. Outro fato foi o frio intenso que com a chuva espantou os que pretendiam passar um domingo no interior. No caso, serra com montanhas. Mas calculo que o motivo de maior contribuição para o enfraquecimento do comparecimento foi o Grenal. Velho embate de futebol entre Grêmio e Internacional, que decidiria o campeão. O jogo, que começou as quatro da tarde, envolve todo o povo gaúcho e aí se inclui a família Tassinari, que se divide nestas horas, em torcedores do azulão ou do colorado. Os que foram a festa estavam indóceis para saber notícias, jogadores escalados, como estava o jogo e assim por diante. Mas a festa com toda modéstia, aconteceu linda como sempre. No cardápio o velho e saboroso churrasco, saladas e arroz. A sobremesa, cobrada a parte, foi saborosa. A organização pelas incansáveis Maria Augusta e Leoci, foi impecável. Se desdobraram para tudo acontecer sem sobressaltos. E foi o que ocorreu sem problemas. Sucesso como sempre.
Pelos registros oficiais os italianos, incluídos os da família Tassinari, chegaram ao Barão do Triunfo em 1889, onde receberam terras e materiais para trabalhar. A cidade em si, fala sua história. No nome das ruas, nos casarões antigos e até nas árvores centenárias que derrubam suas sombras pela pequena cidade. Em cada esquina uma história, uma recordação, alguém para contar algo. E é isto que a festa de família, que se realiza todo terceiro domingo do mês de maio de cada ano tenta manter viva: a chama destes imigrantes desbravadores. Ali chegaram, acreditando numa melhoria das condições de vida.
Barão do Triunfo é uma cidade cujo desenvolvimento me parece estar dentro de uma programação política que passa pela manutenção da primitividade. Localizada numa serra, com ruas e lombas que sobem e descem por toda cidade, não necessita de maiores desenvolvimentos. Não há problemas de engarrafamento, vagas no centro da cidade, nem assaltos a residência. Muito menos sequestros relâmpagos. A população vive confortavelmente, sem sobressaltos. O acesso, por qualquer lado, sempre passa por pelo menos 50 quilômetros de estrada de terra: Arroio dos Ratos, Sertão Santana ou Mariana Pimental. E isto contribui para um dos pontos pitorescos da viagem. Quem não curte estrada de terra, aluga vaga em ônibus fretado, saindo de Mariana Pimentel.
Entre os presentes os três membros mais idosos da família, Armando, o Armandinho com 85 anos, sua irmã Eloá, com 81 anos e Maria de Lourdes, de 82 anos. Os dois primeiros filhos de Helena Tassinari e Lourdes, filha de Dante Tassinari. Como Helena e Dante são irmãos, os dois primeiros e Lourdes, são primos irmãos.
Armandinho, cuja foto está estampada no texto, mantém o bom humor. Chama Lourdes de Baronesa, a representante mulher presente a festa, de mais idade. A alusão a Baronesa é pelo fato dela haver nascido na cidade.
Armandinho e Lourdes moram sozinhos, cada um num bairro d a capital do Estado, ambos viúvos, prova de vitalidade da família Tassinari. São independentes na labuta diária. Exemplo de vida para os jovens.
Armandinho recorda de muitos acontecimentos dos tempos de menino. Morou no Barão do Triunfo dos 2 aos 8 anos. Exibe uma bigorna em miniatura que tem mais de cem anos. O primeiro ofício foi o de ferreiro, aprendido com Dante Tassinari, pai da prima Lourdes. O pai de Armando era fabricante de explosivos e quase se rebentou quando a fábrica, que na época tinha segurança precária, voou pelos ares, enterrando o sonho do negócio e o sustento da família.
As 4h da tarde, todos começaram a sair. Os afoitos saíram mais cedo para pegar o segundo tempo do Grenal. Chovia muito e cheguei a temer pelas condições da estrada. Com receio peguei a que julguei mais segura, Sertão Santana. Doce ilusão. O prefeito havia mandado passar máquinas na pista e o barreiro fez o carro dar boas deslizadas perto da cidade.
Ao chegar a capital, o sol predominava e soube que o Grêmio havia perdido o jogo. Certamente se não houvesse viajado, o resultado permaneceria igual. Perderia a festa e meu time derrotado de qualquer jeito.
E viva as festas da família Tassinari! No ano que vem, Augusta e Leoci, conto com a garra de vocês para a realização da Décima Primeira. Se houver Grenal, proponho que se faça um abaixo assinado para a Federação Gaúcha adiar, caso contrário será um fracasso, do Grenal, claro.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

ENDEREÇO INCERTO







(fotos : Marco)
























Ana chega à janela do apartamento e espia o homem da bicicleta. Está lendo embaixo da árvore de ramagem espessa, protegido do sol por sombra densa. Lê diariamente desde o amanhecer. De um lado, a bicicleta equipada com vários compartimentos, do outro, a caixa do tamanho de um container, guarda bens preciosos. Quem seria o misterioso que há cerca de três anos mora na rua, em frente a janela? Evitava se aproximar e falava a filha ser perigoso. Mas um dia, movida pela curiosidade desceu aos pilotis do bloco e aproximou receosa. De perto, verificou que o receio era sem fundamento. Deparou-se com um homem de pele morena, altura média, idade indefinida, sem dentes, meigo e sorridente. Roupas surradas, mas limpas. O queixo proeminente vez por outra apontava para cima e indicava arrogância, mas logo se escondia atrás do sorriso franco e olhar fugidio.
Francisco Kaefer, em primeiro de setembro de 2011, faz 37 anos. Estudou até a sétima série. "Acredito em Deus mas não tenho religião”, fala sorrindo quando perguntado. É natural de Cascavel no Paraná. Possui seis irmãos e três irmãs. Um dos irmãos, o mais querido, morador de Cuiabá, morreu atropelado. O restante não os considera e faz questão de manter distância. “Sou o irmão mais novo e tenho vinte anos de diferença da irmã mais velha. Quando meu pai morreu, em 1978, os mais velhos se acharam no direito de dar ordens. Não aceitei a imposição e sumi da vida deles. Quero-os longe.” Revolta-se. “Só sabem discutir comigo”. Quando em 1994, a mãe faleceu, não o avisaram. Soube da morte duas semanas depois. Sem tempo de providenciar a viagem para dar adeus a mulher que o colocou no mundo, resignou-se.
O morador de rua raramente o é por vontade própria. Algo forte ocorreu que o afasta do convívio, colocando em posição social contrária.
Existem estudos para descobrir os motivos que levam as ruas. O desemprego, a falta de estrutura familiar, problemas com a justiça, vícios (drogas ilícitas e lícitas, como o álcool) ou problemas mentais, são os comuns. Francisco em nenhum se enquadra.
Nem mendigo, nem pedinte, Francisco é artesão e desenhista. A bicicleta além de meio de transporte mostra sua arte. É decorada com desenhos geométricos, nas cores amarela e vermelha. No inicio, fazia e vendia artesanato na torre de TV. Interrompeu este comércio após ser delatado pelos comerciantes aos fiscais. Hoje, faz parceria com os artesãos que revendem suas obras.
A outra ocupação é com reciclagem. Cata latinhas e materiais plásticos e revende numa recicladora da Asa Norte. Isto permite vida folgada, mas de conforto duvidoso. É um poupador e defende a poupança. Principalmente porque a vida na bicicleta, num trânsito praticamente exclusivo para quatro rodas, é perigosa. Francisco ganha cerca de R$ 1 400 mensais com as atividades de artesanato e reciclagem o que garante a conta na Caixa Econômica Federal. Além do gasto com a pensão, gasta cerca de R$ 400, sendo R$ 280 para comprar comida e R$ 120 para livros e revistas.
O paranaense afirma que está nas ruas porque quer, gosta. Não paga contas de luz, de água, condomínio ou aluguel. Mesmo com ganho mensal razoável, prefere a rua, sem endereço, anônimo. Sente solidão, mas quem está livre dela? Não quer mulher para dividir o espaço que é grande, mas que dividido por dois, será a metade. Para se aliviar usa os serviços das prostitutas. “Faço, pago e elas vão embora, sem compromisso. A convivência só incomoda”. Fala firme, deve ter conhecimento.
Há mulheres, catadoras de latinhas que querem dividir espaço. Mas resisti. Moradora de rua, jamais. A última que tentou colocar rédeas, morava com três filhos adolescentes fumadores de maconha numa invasão. “Para evitar riscos, sai fora.”
O bem mais valioso, depois da vida e da liberdade, é a bicicleta. Conheceu o Brasil inteiro em duas rodas, incluindo Manaus com a dificuldade da floresta amazônica. Antes de Brasília, morou nas ruas de Cascavel, Araguari, Uberlândia e Cuiabá. Quando ainda morava na cidade natal, arriscou-se a ir ao exterior. Foi parar no Paraguai e depois no Uruguai.
A bicicleta tem radio, iluminação de tipos e cores diversas, compartimentos visíveis e invisíveis que guardam segredos e é toda reforçada para rebocar o pequeno container. As pilhas retiradas dos lixos do Plano Piloto alimentam as lâmpadas “o pessoal as joga fora ainda com carga e me servem por bom tempo”.
Francisco tem filho de 12 anos que vive com a mãe em Cuiabá, e paga pensão de R$ 350,00 estipulada por juiz. “Pago direito a pensão. Desconta direto de minha conta bancária. Atraso no pagamento dá cadeia e não quero nem pensar nisto”, fala com medo. “Respeito o ladrão, mas também respeito a Policia, na verdade tenho medo dos dois.” Vez por outra, vai a capital do Mato Grosso visitar o menino.
Ana acredita que existem muitos ganhos secundários em morar na rua. A liberdade, a preservação do direito de ir e vir e do desapego, os mais importantes. Francisco coça a cabeça sem jeito e discorda, “O custo disto é alto, não tenho a mínima segurança nas ruas. O maior inimigo de quem mora nas ruas é o próprio morador das ruas.” E acrescentou que vivem oferecendo droga. “Minha liberdade não compro, nem vendo por droga nenhuma”. Aproveitou para contar que quase morreu há três anos. Estava de bicicleta à noite, passando pelo Setor Comercial Sul quando, ao aproximar de um grupo de dois homens e uma mulher que cheiravam droga, um deles o empurrou, derrubando-o. Ainda no chão, recebeu três golpes com barra de ferro e só está vivo porque um soldado chegou na hora e o levou ao Hospital de Base. Permaneceu dois dias em coma e sete no hospital. Ao ter alta, procurou o Policial Militar que o salvou e foi aconselhado a fazer um Boletim de Ocorrência. Os agressores foram condenados a oito anos de prisão por tentativa de homicídio.
Francisco é um ávido leitor de revistas. Na caixa construída para guardar os pertences, podem ser vistos exemplares do Universo Marvel, novos, que adquiriu nas bancas. Os livros compra nas livrarias ou ganha dos moradores da quadra onde mora, admiradas pelo interesse na leitura. Orgulhosamente, apresenta a coletânea completa de livros de Seleções de Rider Digest composta de 11 livros de contos, com fina encadernação em capa dura vermelha.
Ana desacredita na felicidade dele. Questiona até se haveria algo por trás da aparente calma e segurança. Estes dias passou mais de oito horas lendo, não fez nada o dia inteiro. Apenas leu. Onde quererá chegar. Na verdade, precisamos chegar a algum lugar? Explodirá em stress se nada fizer?
Em abril, tirou férias de tudo. Não catou latinha, nem trabalhos de artesanato, ficou lendo, descansando na sombra. Pode se dar a este luxo, afinal, a poupança da Caixa Econômica Federal, lhe dá lastro. “Tiro férias quando quero, sem pedir a ninguém nem dar satisfação de minha vida. Qualquer dia, quando cansar daqui, pego minhas coisas e vou para outro lugar, afinal, o que faço posso fazer em qualquer lugar”.
Francisco é um morador de rua, mas ilustra a eterna busca do homem procurando algo que talvez nunca encontre.
A letra abaixo possui um link para quem desejar ouvir a música e representa a vida de um morador de rua. Não é o caso, mas define com poesia realista, as pessoas das quais Francisco quer distância.




Morador Das Ruas Dorsal Atlântica


Bebendo sem parar, as horas não passam
E respirando o ar gelado entre prostitutas,
Travestis, desocupados,
Cheiro de luxúria e cerveja me entorpecem
Chuva bate forte no chão quente, o cheiro de asfalto
Entre você e eu só existe a noite
E a vontade de nos encontrar
Essa estranha sensação de abandono fica solta no ar

Encontro sem hora marcada
Esse ruído insistente de silêncio
Ligados pelo mesmo sentimento final

Esquinas, ruas mudas, espreitando em silêncio
Ouvindo-nos andar e arfar

Morador das Ruas

Precisa ser livre, não se sentir preso a nada e ficar
Apenas o mundo sem obrigações
O próprio reinado do morador das ruas
Só, viver, livre, agora

Se essas ruas pudessem ser minhas
Eu poderia abraça-las
Senti-las vivas pulsando
Sugando a vida de quem passa nelas
Ou se quisesse destruir tudo como um crime passional
Para que isso? Por que não ir embora e esquecer?
Estou aqui sei que vou ficar, porque aqui é meu lugar

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domingo, 1 de maio de 2011

LIMITES DA PAIXÃO

(IMAGEM DO GOOGLE)


Carlos costumava reunir amigos para manter viva a amizade forjada nos tempos de faculdade. A cada ano, o grupo ficava maior e exatamente por isso, a participação de Alcino passou como fato corriqueiro.
No dia marcado, além de Carlos, Alcino encontrou Jorge, Paulo, Casemiro, Agenor, Palhares e Miranda.
Carlos encheu a cuia do chimarrão e a deu ao recém-chegado quando acabou de cumprimentar os amigos.
As reuniões eram periódicas, a convite do dono da casa. Normalmente falavam sobre fatos acontecidos. Haviam trabalhado juntos durante a construção de Brasília, sócios de empresa de projeto.
O dono da casa era o mais falante.
– Vocês recordam que Alcino nunca chegava cedo às obras? Desistimos até do transporte solidário. Quando era a vez dele nos levar de carona, sempre atrasávamos. – Carlos falava alto e os amigos curiosos em ouvir detalhes, fizeram silêncio.
– As mulheres da empresa, principalmente as solteiras suspiravam pelos corredores “Ah! se o Al me olhasse com aqueles olhos azuis!” Diziam. Ele as despistava. Era soberbo! – A gargalhada foi geral ao comentário de Casemiro.
Alcino prestava atenção ao grupo, tentando descobrir aonde chegariam.
Carlos encheu a cuia e entregou a Palhares, que aproveitou a deixa e contou uma de suas piadas.
Quando Alcino parecia esquecido, o dono da casa retornou mais afiado.
– A soberbia só não alcançou Jurema, a secretária do major Ataliba. – Os olhares se voltaram a Alcino, que pigarreou. – Uma negra bonitona e sapeca. – e desenhou no ar com as mãos, modelando imaginariamente uma mulher com largos quadris.
– Ei Carlos, vá com calma, hein? Aceitei o convite, mas para divertir, respeita meus cabelos brancos. – Alcino falou em tom de brincadeira, tentando parecer indiferente as brincadeiras.
Mas Carlos estava disposto a levar o assunto adiante.
– Pois um dia invoquei com o conquistador. Levantara cedo para terminar um projeto e vi Alcino acompanhado de Jurema, chegando no Opala vermelho. Sem perceberem, segui-os até o segundo andar. Detrás de uma divisória percebi-os aos beijos. Permaneceram ali por trinta minutos e saíram. Quem se arrisca a adivinhar onde foram? Alguém se habilita?
Ouvindo isto, Alcino tentou sair de fininho, mas foi parado por João que o pegou pela cinta e o trouxe novamente a roda.
– Alcino e Jurema, foram ao gabinete do presidente da empresa. Acredito que para realizar alguma fantasia. – Carlos não perdoava mesmo. O injuriado encrencado pelas declarações do amigo abria e fechava a boca sem entender. João tirou uma foto do bolso e mostrou aos colegas. Na foto, Alcino correndo atrás de Jurema em volta da mesa do chefe.
Alcino ficou atordoado com as revelações. Pensou o que poderia ter feito a Carlos para agir assim.
Jorge se levantou e falou claro e firme.
– Alcino, todos aqui passaram pelo mesmo constrangimento. De todos nós apresentou algo nas últimas vezes que aqui comparecemos.
E virando-se para Carlos, intimou-o.
– Fala fanfarrão, o que quer? Porque estas revelações?
– Quero pouco. Mas é importante. Que testemunhem em meu favor no processo de divórcio que moverei contra Solange.
Os amigos se entreolharam. Amigos do casal sabiam que o amigo não era santo.
O objetivo de Carlos clareava aos poucos.
– Alcino sabe o que quero dizer. E virou-se ao amigo, com um sorriso maroto. – O alemão branquelo, ficou vermelho como pimentão – Na semana passada eu viajei e a Solange permaneceu só aqui em casa. Como Alcino entende de hidráulica, liguei e pedi que olhasse o vazamento da pia da cozinha na terça-feira ao meio dia. Expliquei que a chave da área de serviço estava embaixo do vaso da samambaia. Depois, liguei a Solange e falei que chegaria antes do almoço, de terça e que esperasse de camisola vermelha. Cheguei mais cedo e peguei-os conversando na cozinha. Que vergonha, Al, continuas o mesmo de sempre. Nem respeitou a mulher do amigo de camisola. Olha isto!
– Carlos mostrou fotos tiradas naquele dia, por trás das cortinas.
– Sabe que nada houve entre Solange e eu. Acabou de confessar a armação! – Alcino ficou indignado.
– Não confesso nada. Alguém de vocês ouviu algo sobre armação? O principal é que casarei logo após o divórcio. – Falou próximo a Alcino, olhando a mulher que se aproximava.
– Com a Jurema, certo querida? Sempre fui apaixonado por ela e quem a conquistou foi Alcino, seu safado – e deu um safanão na cabeça do amigo.
A mulher entrou triunfante, atravessando a porta dos fundos em direção a churrasqueira. Alcino até gaguejou, mas as palavras entalaram.
Jurema tirou o roupão e, de maiô vermelho cavado, saltou na piscina.
Sentia-se dona da casa.