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domingo, 17 de julho de 2011

ARRAIÁ DO ZÉ

(foto da festa)



Cheguei a Brasília, vindo de Porto Alegre em 1974 aos 24 anos, recém formado na faculdade de Engenharia de Porto Alegre. Nove e meia da noite do dia 03 de janeiro. O primeiro registro desta chegada à capital foi a Torre de TV da Esplanada dos Ministérios que, iluminada para o Natal, ostentava lâmpadas vistas a quilômetros de distância. Depois descobri que desta torre, partiam todas as transmissões de estações de TV e algumas de rádio da cidade.
Fora contratado para coordenar a montagem dos transmissores de alta potência da Rádio Nacional, no Parque do Rodiador, perto de Sobradinho. A noite se avistava o belíssimo colorido das luzes do Plano Piloto, ainda em construção. Durante o dia, o poeirão.
O Presidente Médici inaugurou o projeto dos transmissores em 31 de março. No dia seguinte, passou o cargo da República ao General Geisel que, numa das primeiras decisões de governo, enxugou o quadro de pessoal da rádio. Fiquei desempregado. Mas a capital oferecia enorme quantidade de mão de obra e fui admitido no Ministério das Comunicações.
No Minicom, formei o primeiro círculo de amizades. Éramos jovens na faixa dos vinte anos com filhos ainda pequenos.
Naqueles tempos a capital carecia de divertimentos e a recreação deveria ser programada por nós mesmos. Churrascos, festas de aniversários, piquenique as margens das cachoeiras da região, além de torneios de xadrez, cartas e damas.
Hoje muitos são avós de cabelos grisalhos que mesmo assim programam encontros. Basta dar a idéia que os amigos se alvoroçam.
Há dois anos, Moacir e Mali, reuniram em seu lindo e confortável sítio. Lá estavam o Marinho, o Gelson, o Paulo, eu e outros tantos.
Paulo é outro festeiro. Em 2010 comemorou seu aniversário num barco que navegou suavemente pelo lago Paranoá onde juntou cerca de 50 amigos que se divertiram ao som de um DJ.
Em 09 de julho passado, o convite partiu de Marisa e Zé Ricardo. Aconteceu uma festa de São João na casa de final de semana no condomínio RK, perto de Sobradinho. Era para eu comparecer pilchado com vestes de gaúcho, mas não o fiz. As botas se perderam no tempo e a bombacha ostentava cheiro de mofo. Nem por isso deixei de ir. De chapéu preto, aba dura e barbicacho, típico da região sulista.
Lá estavam Augusto e Bira, com as respectivas esposas, amigos dos filhos dos donos da casa que enfeitaram com juventude e eu com a namorada Maria Lúcia. Lamento apenas que muitos amigos convidados não compareceram. Estão esmorecendo. O frio os espanta das noites, impelindo a ficar em casa vendo novelas.
O forró estava solto e Marisa anunciou que haveria quadrilha. Fiquei animado. Mas para minha decepção, não aconteceu. Fiquei na saudade.
A comida estava farta e os convidados levaram pratos típicos. Foi um manancial de amendoins, bolos, cachorro quente, vatapá, empadão goiano, canjica, quentão, e tudo o mais que embala boa festa de São João.
Marisa lembrou as fanfarras promovidas pelos anos 80 em minha chácara no Vale das Andorinhas. Por ser distante, quem pensava em permanecer, levava rede e estendia na sala ou varanda. Dormia ao som do sanfoneiro que de tão bêbado tocava três notas numa gaita de sete baixos, por horas a fio.
No segundo andar da casa, Zé Ricardo construiu um varandão de onde tem belíssima vista da cidade de Sobradinho. Nas noites quentes de verão, ele e Marisa sentam e passam a limpo suas vidas. São quase 40 anos de casados.
Zé Ricardo gosta de fazer pizzas no forno a lenha. Prometeu que na próxima fornada chamará a todos novamente. Estou preparado.
Ao final da festa, avistei um rosto familiar. Estava de saída e nos olhamos desconfiados, procurando traços que indicassem algo. Era o Alexandre. Com dezoito quilos mais “forte” e eu dez, os atletas da juventude ficaram para trás.
Ao final, tive a convicção que encontrar amigos é uma forma de nos ver por outro ângulo. São donos de parte da memória e ajudam a reviver acontecimentos esquecidos.
Encontrar amigos é saber que com eles sou feliz em ser eu mesmo.

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