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sábado, 16 de abril de 2011

DIFÍCIL DECISÃO

Fonte: imagens do Google Quando a porta da frente abriu, Izabel olhou o relógio. Cinco horas da manhã. Celso entrou cambaleante e incerto, tropeçando na mesa de centro. Deixou atrás de si rastro de barro, cheiro de bebida e mau humor. Desabou no sofá. A mulher aprendera a identificar o momento péssimo para discussões. Repetia o horário de chegada pela terceira vez na semana. E certamente não seria a última. A camisa em desalinho, a calça amarrotada, a gravata torta, não deixavam dúvidas. Dormira acompanhado em algum lugar. No quarto, Cristina e Mônica dormiam inocentes. Izabel aproximou-se carinhosamente, beijou-as e saiu fechando a porta. Protegia as filhas de verem o pai naquele estado. Na sala reencontrou o marido emborcado no sofá, com uma baba que o unia a uma poça de vômito no tapete. Uma ânsia na boca do estômago, a fez virar o rosto. Procurou na agenda a página da advogada. Há dois anos o casal trocara a cama por duas de solteiro. Mulher fogosa, plena de energia, no início do casamento sentia-se preenchida. Mas a vida os distanciara. As filhas exigindo atenção, os compromissos de trabalho, o descontrole da bebida e por fim o verdadeiro motivo do desgosto. À medida que se distanciavam, colocava a culpa da inapetência na frieza da mulher. Apesar de humilhada nas rodas de amigos e em reuniões de família, nunca o desmentira. Esperava que tirassem as conclusões. O caldo entornou ao descobrir o caso amoroso com uma colega de trabalho. Descuidado ao beber, deixara cair um bilhete apaixonado de Sônia. Com as bebedeiras Izabel estava até acostumada, mas traição era insuportável. Precisava, no entanto ter certeza. Certo dia acompanhou-o a um jogo do Flamengo na casa do Ranulfo, colega de trabalho do marido. Lá notara Celso e uma mulher trocando olhares cúmplices e conversando ao pé do ouvido. Ambos bebiam e brindavam a todo instante. Izabel procurou a dona da casa e disfarçadamente informou-se sobre aquela mulher. “É a Sônia, irmã do Ranulfo e trabalha na empresa no setor de Celso. Com a decisão tomada, preparou o café da manhã para os filhos e deixou o lugar do marido vazio. Explicou à empregada que o almoço também o excluiria. Benedita entendeu. Foi à área de serviço, pegou balde, água, sabão e pano e iniciou a limpeza do tapete. No sofá, Celso roncava displicente. Faltaria ao trabalho, pois Izabel não o acordaria como das outras vezes. No meio da manhã, procurou o escritório de advocacia para solicitar o encaminhamento dos papéis da separação. Marcou uma consulta ao cardiologista. Entraria com atestado de afastamento do trabalho para enfrentar a tormenta. As filhas, mesmo sabendo do pai alcoólatra e da descoberta da outra, não admitiam a separação. Nem a ameaça de Celso excluí-la do plano de saúde fez Izabel desistir. Separaram-se em meio a um divórcio conturbado, pleno de acusações. Izabel entrou em profunda depressão. Não que sentisse falta do marido, mas pelas cobranças das filhas. Percebera que vida de mulher descasada era cheia de desafios e a liberdade conquistada agora a sufocava. Era dona de seu nariz, mas crenças adquiridas ao longo da vida, a paralisavam. Os pais deixaram marcas profundas. Mãe resignada e pai ausente foram os principais juízes. Acreditavam que por pior que seja um casamento, deve ser levado como carma, até o fim da vida. Ao fazer psicoterapia mudanças foram inevitáveis. Não somente pela descoberta de si mesma, mas porque numa das idas ao consultório, trocou olhares com Bragança. Ele frequentava o mesmo consultório para administrar conflitos conjugais. Marcaram um jantar e, à saída, foram ao apartamento dela, onde tiveram momentos de ternura e intimidades. A cada encontro, raros pela situação de Bragança, aumentavam as descobertas. Izabel experimentava momentos únicos. Celso foi o primeiro namorado numa época de proibições para o mundo feminino. Agora, graças a psicoterapia, sentia-se livre para experimentar novos horizontes. O fato de o parceiro ser casado, não a incomodava. A relação durou seis meses e a mulher saiu fortalecida e feliz. Com feridas cicatrizadas e aberta a novas relações, partiria a procura de alguém que compartilhasse a vida com a nova Izabel. Passou a entender que o passado não pode ser modificado e o futuro depende do hoje. Sendo assim viveria o presente, sem expectativas e frustrações, focada em plantar relacionamentos maduros, livre dos males do ressentimento e da culpa

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